quarta-feira, 4 de maio de 2011

Mina Ahadi pede que Dilma critique regime de Ahmadinejad Abril 30, 2011



Entrevista – Mina Ahadi
QUEM É




Nascida em Abhar, no Irã, Mina Ahadi tem 54 anos. Casada pela segunda vez (o primeiro marido foi condenado à morte no Irã), tem duas filhas. Vive em Colônia, na Alemanha.
O QUE FAZ
Preside o Comitê Internacional contra o Apedrejamento. É integrante do banido Partido Comunista do Irã e fundou um conselho para ex-muçulmanos na Alemanha
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Revista– Como está Sakineh na prisão? A senhora consegue falar com ela?
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Mina Ahadi – Não. Meu trabalho é muito vigiado, e mesmo os parentes dela temem falar comigo. Mas sei, por eles, que Sakineh sofre de depressão, pois não sabe, afinal, o que vão fazer com ela. Tem medo de ser executada. O regime disse que poderia ser libertada se ela colaborasse com a polícia secreta, mas Sakineh continua em perigo. A Justiça ainda não suspendeu a sentença de apedrejamento. O processo está como nos primeiros dias. Então, tudo é possível. Eu temo por ela porque todas as ações mundo afora ainda não foram capazes de salvá-la.
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Revista – A senhora acha que Sakineh foi esquecida pela mídia, especialmente depois dos levantes no mundo árabe?
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Mina – Sim. Hoje pouco se fala sobre ela. Isso é um problema. Ela não pode ser esquecida. Mas as revoluções árabes podem ser uma grande ajuda para Sakineh. É um movimento contra governos ditatoriais, contra as violações a direitos individuais. Os iranianos aprenderam muito com esses levantes, e esperamos que isso leve à queda o regime no Irã.
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Revista – A presidente Dilma Rousseff já afirmou que não vai tolerar “práticas medievais”, como o apedrejamento. A senhora acha que ela pode ajudar na libertação de Sakineh?
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Mina – Dilma até agora tem uma política melhor que a de Lula, mas pode fazer mais. Pode ajudar mais ativamente as mulheres e outras vítimas do Irã. E pode também criticar pública e abertamente o regime iraniano. Há mais de 30 anos pessoas são apedrejadas, e mulheres não têm direitos. Mesmo assim, Lula chamava Ahmadinejad de amigo e nunca disse uma palavra sobre as barbaridades do regime. Tenho mais esperanças com Dilma. Pedi à organização do fórum para falar com ela (o governo confirmou apenas uma audiência com a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário). É uma boa oportunidade de informá-la sobre o que acontece com as mulheres no Irã. Os brasileiros têm de nos ajudar a construir um futuro secular.
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Revista– O caso de Sakineh é o mais famoso internacionalmente, mas quantos outros estão na mesma situação dela no Irã e em outros países?
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Mina – Temos uma lista, organizada pelo próprio Comitê contra o Apedrejamento, de 150 homens e mulheres que já morreram apedrejados no Irã. Hoje há 24 mulheres e dois homens que correm o risco de ser executados dessa maneira no país. Não temos informação precisa sobre casos de apedrejamento nos outros países, como Afeganistão, Paquistão, Iraque, Sudão, Nigéria e Emirados Árabes. Mas o Irã é o mais agressivo na determinação dessa sentença. Nossa luta no caso de Sakineh ao menos serviu para mostrar ao mundo o horror do apedrejamento. Um dia vamos pôr fim a isso.

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