sexta-feira, 24 de junho de 2011

SKINHEAD'S e PUNK'S ANTI-FASCISTAS












Na noite desta quinta-feira, a mídia noticiou com muito alarde a detenção pela polícia de um grupo de pelo menos 20 skinheads depois de se reunirem na Praça da República, no centro de São Paulo. A Polícia Militar foi avisada por pessoas que passavam pelo local. Como acontecia no vale do Anhangabaú, próximo dali, a 11ª Feira Cultural LGBT, que faz parte dos eventos da Parada do Orgulho LGBT, a mídia já deu a entender que o grupo detido estava planejando algo contra os homossexuais da feira ou então uma ação no dia da parada.

Porém, poucas horas depois pelo Facebook, soube-se que os skinheads presos fazem parte do S.H.A.R.P, que não são homofóbicos e lutam contra o fascismo de outros grupos ditos skinheads. Os integrantes do S.H.A.R.P estavam reunidos para organizar a sua participação de apoio na parada gay, com manifestações antifascistas, da mesma forma que já fizeram participando da Marcha Contra a Homofobia que aconteceu na Avenida Paulista, em fevereiro de 2011.

Eles foram encaminhados pela PM para o 3º DP, de Campos Elísios, para averiguação. Ali eles foram cadastrados e foram liberados ao poucos. Segundo a mídia, “ninguém deu queixa de agressão contra eles”, é lógico, sendo que eles não fazem parte de grupo de intolerância.
Os verdadeiros skinheads acabam sendo vítimas do preconceito e discriminação, da mesma forma acontece com os homossexuais e os nordestinos nas mãos dos Carecas e de outros integrantes ditos skinheads, mas na verdade não se passam de fascistas, integralistas de concepção política de extrema direita. O main stream da mídia simplesmente reproduz os fatos policiais, mas não faz a verificação da veracidade dos fatos, acabando informando de forma erronia e preconceituosa.

Aproveitando deste fato, publicamos trecho de um longo e-mail enviado para a nossa redação, muito esclarecedor sobre o Skinhead, e que talvez possa jogar um pouco mais de luz sobre esse movimento social incompreendido:

Bom dia,
Quero pedir desculpas pela informalidade, mas prometo ser objetivo. Antes de mais nada, gostaria de dizer que, aprecio suas fotos e muito de seus textos. Mas um que li recentemente, embora tenha sido publicado há 4 anos, me chocou bastante, nele eu vi totalmente os antônimos das reivindicações dos homossexuais. O texto em sugestão é este, “Eles têm ódio de que”, sei que não foi você quem escreveu, mas você publicou em sua página, se estou certo. Este texto de nada mostra o conhecimento do skinhead e do punk, o embasamento foram algumas gangues de São Paulo e só. E há até mesmo incoerência como em: “Freqüentam os mesmos lugares e compartilham os gostos musicais (reggae, ska e punk – de variadas vertentes). ” Está correto, o reggae e o ska (estilo musical oriundo da Jamaica e que deu início ao reggae) são sim músicas ouvidas por skinheads, mas logo abaixo e em todo o texto ele diz que os skinheads são racistas e que alguns até veneram Hitler, me diz, como pessoas que gostam de música negra podem adorar tal lixo racista? Encarecidamente, peço para que leia o texto que vou escrever abaixo.

O skinhead nasceu na jamaica na metade dos anos 60, eram pobres jamaicanos, que cometiam alguns delitos e tinham gangues, muitos tocavam em grupos de ska, no entanto eram chamados Rude Boys. Sem emprego, foram para a Inglaterra, onde encontraram os Mods, eram garotos ingleses da classe trabalhadora que usavam um visual moderno(dai mod) e que amavam a música negra americana como o soul, blues, r&b e etc. aproveitando que os ingleses adoravam músicas negras, eles levaram o rocksteady e o ska. Fizeram muito sucesso. Do termo skinhead ainda não se sabe o por quê, mas acredita-se que como os jamaicanos tinham piolhos, eles raspavam a cabeça, os mods começaram a “copiá-los”, e em muitas músicas de ska foram imprimidas a palavra “skinhead” como nessa música: http://www.youtube.com/watch?v=qtOTodl4sVk , como pode ver o cantor é negro, um dos maiores ícones da música ska. Os mods viram que algumas bandas como The Beatles estava indo pro lado hippie, o que nada tinha a ver com o orgulho trabalhador e deixaram de ser mods ou então se denominaram “hard mods”, começaram a se vestir como os operários britânicos: botas; suspensórios; camisa xadrez.
Brancos e negros iam a bailes de ska dançar junto e confraternizar, os ingleses adoravam os jamaicanos. Fundaram o Two Tone, que também pode ser chamado de skinhead reggae, onde haviam membros negros e brancos nas formações das bandas.
O punk surgiu depois, nos anos 70. O skinhead já não tinham muitos adeptos e alguns se uniram aos punks, foi quando surgiu o Oi! que nada mais é um estilo musical que fala da união de punks & skins, as bandas punks tocam músicas punks feitas para punks, e as bandas skinheads, tocam músicas de skinheads para skinheads, embora muitas tinham membros punks e skins. O estilo retrata a vida dos grupos, nas ruas, no trabalho. É a expressão “rueira” dessas tão ditas “sub-culturas”, o que pra mim são completas o suficiente para serem chamadas de cultura. Não havia ainda racismo e nem política aqui. O anarco-punk é uma vertente distinta do Oi! muitos anarcos odeiam o Oi!

Algum tempo depois, o partido nazista inglês, o National Front, viu que haviam muitos jovens de mente vazia nesses movimentos, o maior ícone deles foi Ian Stuart Donaldson, que a princípio era Skinhead, líder da banda de “early punk” Skrewdriver, depois de frustrações por ter sido proibido de tocar com sua banda em muitos lugares, por serem considerados uma banda violenta, em relação à brigas em shows, desfez a banda, mudou de estado e se aliou ao National Front. Quando re-fundou o Skrewdriver, recrutou outros membros e agora adotava uma postura inventada por ele mesmo, o RAC (rock contra o comunismo), na verdade o RAC é apenas umas desculpa pra que sejam explícitos toda a política e ódio neonazista, o que eles menos falam é sobre comunismo. Ian foi para o neonazismo como Goebbels foi para o nazismo, os maiores divulgadores deste lixo. Graças a ele, até hoje os skinheads são chamados de nazistas, a mídia inglesa gritava aos altos que skinheads tinham feito isso, que skinheads tinham atacado negros e etc.

Os reais skinheads chamavam os seguidores de Ian, de bonehead (cabeça oca), como o movimento skinhead estava em declínio e a maioria estava ligada ao Oi! (lembrando que neonazistas não eram skinheads! Só copiaram o estilo, por isso nunca se refira a um nazi como skinhead), muitos skinheads da época do auge do ska voltaram para as ruas e também novos skinheads surgiram com a temática de Spirit of 69′, ou seja um revivalismo à cena do final dos anos 60 onde o skinhead era apenas músicas e visual, sem preconceitos e políticas.Foi criado o S.H.A.R.P (skinheads against racial prejudice, skinheads contra o preconceito racial) e o R.A.S.H (red and anarchist skinheads, skinheads comunistas e anarquistas) para combater o RAC e o neonazismo. O R.A.S.H foi muito aderido na época (todo rash é sharp, mas nem todo sharp é rash), fundaram o movimento anti-fascista, algumas bandas como The Red Skins e Oi Polloi foram muito importantes, inclusive o Oi Polloi tem uma música chamada “When Two Men Kiss” falando sobre a estupidez que é a homofobia, na frança os R.A.S.H combateram os nazi, armados com bastões de baseball, a mídia foi obrigada a divulgar o que era o R.A.S.H de tão forte que ficou, eles se tornaram seguranças em shows, impedindo a entrada de nazis e ajudaram muitos homossexuais, defendendo-os.
No Brasil, o movimento chegou na metade dos anos 80, mas não havia internet e nem informação disponível, então ouve uma total deturpação do que era o Skinhead. As informações que chegaram aqui é que skinheads ou eram nazi-fasci ou nacionalistas. O punk chegou antes aqui e totalmente deturpado também, para eles punks & skins eram rivais mortais, diferente do que dizia o Oi! E foram responsáveis por gritar para todos os cantos que os skins eram nazi. Na verdade, os skins daqui se chamavam de Carecas, apoiavam políticas de direita, muitos eram/são Integralistas e fascistas, mas muitos são apenas nacionalistas. Alguns carecas se diziam White Power, mas foram se desvinculando dos Carecas, que “apenas” são direitistas e não racistas, embora sejam homofóbicos, porque “preservam a família”, coisa de direita.

Hoje em dia, há muita informação, a maioria dos carecas não é racista e há também muitos R.A.S.H e S.H.A.R.P por aqui, muitos skinheads tradicionais (spirit of 69′) que se reúnem em dancehalls de reggae e ska, juntos de negros e qualquer tipo de etnia.

Conclusão
Publicar algo sem ter uma fonte real é fazer o mesmo que os homofóbicos fazem, é ter um PREconceito, é ignorância. Não estou querendo dizer que agora você tenha que gostar de skinheads. Sou um skinhead tradicional e S.H.A.R.P e tenho muitos amigos homossexuais, tanto homens e mulheres. O meu objetivo foi apenas explicar as coisas e abrir a sua mente para que não seja tão preconceituoso quanto um homofóbico. Já que és uma pessoa influente. Se quiser saber mais recomendo o documentário Skinhead Attitude, pode ser baixado em qualquer lugar na internet e tem esse blog: http://skinheadculture.blogspot.com/

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A filosofia da liberdade!

Documentos brasileiros sobre tortura no regime militar são repatriados

"Advogados copiaram processos clandestinamente nos anos de 1980.
Material teria evidência de violações dos direitos humanos no período."


A Procuradoria Regional da República da 3ª Região (PRR-3) sediou, nesta terça-feira (14), um ato público que marcou a repatriação de documentos do acervo Brasil: Nunca Mais, que foram coletados clandestinamente durante os anos de 1980, no período do regime militar, que pudessem evidenciar violações dos direitos humanos. O material foi mantido no exterior pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI) e pelo "Center for Research Libraries" (CRL).
Durante o período da ditadura militar, havia a preocupação com a apreensão do material por parte dos repressores políticos. A alternativa encontrada foi microfilmar as páginas e remeter os filmes ao exterior. As cópias dos processos foram remetidas de Brasília a São Paulo durante seis anos, em sigilo, o que resultou em um material com 707 processos, um milhão de cópias de documentos e 543 rolos de microfilmes.
Em 15 de julho de 1985, quatro meses após a retomada da democracia, foi lançado o livro "Brasil: Nunca Mais", que mostrava parte dos documentos. Um catálogo dos processos judiciais, com análises, soma 6.891 páginas, foi dividido em 12 volumes e foi denominado de "Projeto A".
Estratégia de 24 horas
A compilação dos documentos começou quando a advogada Eny Raimundo Moreira e os advogados do escritório Sobral Pinto precebera que poderiam reproduzir os processos aproveitando as 24 horas facultada pelo Tribunal de Justiça para retirada dos autos para consulta.
O objetivo era encontrar, junto ao Superior Tribunal Militar (STM), informações e evidências de violações aos direitos humanos, praticadas por agentes da repressão militar.
O plano foi encaminhado para Jaime Wright, reverendo da Igreja Presbiteriana, e pelo então cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, que comandaram as atividades a partir de São Paulo. Os recursos financeiros foram obtidos com o Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
Perda de material
O Ministério Público Federal (MPF) constatou que parte do acervo de cópias dos processos do STM, mantido na Universidade de Campinas (Unicamp), sofreu prejuízos com o passar do tempo. Entre os principais problemas estão a ausência de páginas com depoimentos de presos políticos, que foram prestados nas auditorias militares. Os documentos denunciavam torturas, com menção a nomes de torturadores.
A partir disso, o MPF e o Armazém da Memória optaram por digitalizar o material e disponibilizar o material na internet para consulta pública.

Ativista,e Nobel da paz,Shirin Ebadi em entrevista à Folha

A ativista Shirin Ebadi, 63, Prêmio Nobel da Paz de 2003, acusou o regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad de enviar tropas para ajudar na repressão aos protestos pró-democracia na Síria -o "único aliado" do Irã no Oriente Médio, segundo ela. Assista ao vídeo abaixo:


terça-feira, 14 de junho de 2011

Do Anonymous para a OTAN 13 de junho de 2011| 13h31|

“Em uma recente publicação, vocês destacaram o Anonymous como ameaça ao ‘governo e ao povo’. Vocês também alegaram que sigilo é ‘um mal necessário’ e que transparência nem sempre é o caminho certo a seguir.

O Anonymous gostaria de lembrá-los que o governo e o povo são, ao contrário do que dizem os supostos fundamentos da ‘democracia’, entidades distintas com objetivos e desejos conflitantes, às vezes. A posição do Anonymous é a de que, quando há um conflito de interesses entre o governo e as pessoas, é a vontade do povo que deve prevalecer. A única ameaça que a transparência oferece aos governos é a ameaça da capacidade de os governos agirem de uma forma que as pessoas discordariam, sem ter que arcar com as consequências democráticas e a responsabilização por tal comportamento.

Seu próprio relatório cita um perfeito exemplo disso, o ataque do Anonymous à HBGary (empresa de tecnologia ligada ao governo norte-americano). Se a HBGary estava agindo em nome da segurança ou do ganho militar é irrelevante – suas ações foram ilegais e moralmente repreensíveis. O Anonymous não aceita que o governo e/ou os militares tenham o direito de estar acima da lei e de usar o falso clichê da ‘segurança nacional’ para justificar atividades ilegais e enganosas. Se o governo deve quebrar as leis, ele deve também estar disposto a aceitar as consequências democráticas disso nas urnas. Nós não aceitamos o atual status quo em que um governo pode contar uma história para o povo e outra em particular. Desonestidade e sigilo comprometem completamente o conceito de auto governo. Como as pessoas podem julgar em quem votar se elas não estiverem completamente conscientes de quais políticas os políticos estão realmente seguindo?

Quando um governo é eleito, ele se diz ‘representante’ da nação que governa. Isso significa, essencialmente, que as ações de um governo não são as ações das pessoas do governo, mas que são ações tomadas em nome de cada cidadão daquele país. É inaceitável uma situação em que as pessoas estão, em muitos casos, totalmente não cientes do que está sendo dito e feito em seu nome – por trás de portas fechadas.

Anonymous e Wikileaks são entidades distintas. As ações do Anonymous não tiveram ajuda nem foram requisitadas pelo WikiLeaks. No entanto, Anonymous e WikiLeaks compartilham um atributo comum: eles não são uma ameaça a organização alguma – a menos que tal organização esteja fazendo alguma coisa errada e tentando fugir dela.

Nós não desejamos ameaçar o jeito de viver de ninguém. Nós não desejamos ditar nada a ninguém. Nós não desejamos aterrorizar qualquer nação.

Nós apenas queremos tirar o poder investido e dá-lo de volta ao povo – que, em uma democracia, nunca deveria ter perdido isso, em primeiro lugar.

O governo faz a lei. Isso não dá a eles o direito de violá-las. Se o governo não estava fazendo nada clandestinamente ou ilegal, não haveria nada ‘embaraçoso’ sobre as revelações do WikiLeaks, nem deveria haver um escândalo vindo da HBGary. Os escândalos resultantes não foram um resultado das revelações do Anonymous ou do WikiLeaks, eles foram um resultado do conteúdo dessas revelações. E a responsabilidade pelo conteúdo deve recair somente na porta dos políticos que, como qualquer entidade corrupta, ingenuinamente acreditam que estão acima da lei e que não seriam pegos.

Muitos comentários do governo e das empresas estão sendo dedicados a “como eles podem evitar tais vazamentos no futuro”. Tais recomendações vão desde melhorar a segurança, até baixar os níveis de autorização de acesso a informações; desde de penas mais duras para os denunciantes, até a censura à imprensa.

Nossa mensagem é simples: não mintam para o povo e vocês não terão que se preocupar sobre suas mentiras serem expostas. Não façam acordos corruptos que vocês não terão que se preocupar sobre sua corrupção sendo desnudada. Não violem as regras e vocês não terão que se preocupar com os apuros que enfrentarão por causa disso.

Não tentem consertar suas duas caras escondendo uma delas. Em vez disso, tentem ter só um rosto – um honesto, aberto e democrático.

Vocês sabem que vocês não nos temem porque somos uma ameaça para a sociedade. Vocês nos temem porque nós somos uma ameaça à hierarquia estabelecida. O Anonymous vem provando nos últimos que uma hierarquia não é necessária para se atingir o progresso – talvez o que vocês realmente temam em nós seja a percepção de sua própria irrelevância em uma era em que a dependência em vocês foi superada. Seu verdadeiro terror não está em um coletivo de ativistas, mas no fato de que vocês e tudo aquilo que vocês defendem, pelas mudanças e pelo avanço da tecnologia, são, agora, necessidades excedentes.

Finalmente, não cometam o erro de desafiar o Anonymous. Não cometam o erro de acreditar que vocês podem cortar a cabeça de uma cobra decapitada. Se você corta uma cabeça da Hidra, dez outras cabeças irão crescer em seu lugar. Se você cortar um Anon, dez outros irão se juntar a nós por pura raiva de vocês atropelarem que se coloca contra vocês.

Sua única chance de enfrentar o movimento que une todos nós é aceitá-lo. Esse não é mais o seu mundo. É nosso mundo – o mundo do povo.

Somos o Anonymous.

Somos uma legião.

Não perdoamos.

Não esquecemos.

Esperem por nós…”

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Anarquismo e Crime-Benjamin Tucker

Sr. B. W. Ball escreveu um artigo no índice criticando o anarquismo sem ter se familiarizado com os fundamentos dessa filosofia. A seguir a resposta:
O principal argumento do Sr. Ball contra nós, começado brevemente, é esse: Onde o crime existe, força deve haver para reprimí-lo. Quem nega isso? Certamente não o Liberty; certamente não os Anarquistas. O anarquismo não é o renascimento da não-resistência, embora possa ser não-resistente em sua classificação. A direção do ataque do Sr. Ball implica que nós deixaríamos outros cometerem roubos, estupros, assassinatos e estragos dentro da comunidade sem levantar um dedo para impedir seus trabalhos brutais e sangrentos. Ao contrário, nós somos os mais severos inimigos da invasão de pessoas e bens, e porém, ocupados principalmente em destruir suas causas, então não tenha nenhuma dúvida contra tal tratamento heróico de manifestações imediatas como circunstâncias e a sabedoria pode dizer. É verdade que olhamos ao longe, ao desaparecimento definitivo da necessidade do uso da força, mesmo com a finalidade de reprimir o crime, mas isso, embora nela envolvido como um resultado necessário, não é de maneira alguma uma condição necessária da abolição do Estado.
Em oposição ao Estado, portanto, nós não negamos a proposição do Sr. Ball, mas de maneira distinta afirmanos e enfatizamos isso. Nós fazemos guerra contra o Estado como principal invasor do indivíduo e da propriedade, como causa substancial de todo crime e miséria que existe, como em si mesmo o maior criminoso existente. Ele fabrica criminosos muito mais rapidamente do que pune. Ele existe para criar e sustentar privilégios que produzem caos social e econômico. É o único suporte dos monopólios que concentra riqueza e instrução nas mãos de poucos e dispersa pobreza e ignorância às massas populares, para o aumento da desigualdade e aumento da criminalidade, diretamente proporcionais. Ele protege minorias roubando a maioria por métodos sutís demais para serem compreendidos pelas vítimas, e depois punem os membros indisciplinados da maioria na tentativa de saquear outros por métodos muito simples e fáceis de se reconhecer o Estado como legítimo, coroando seus ultrajes por iludir os estudiosos e filósofos da marca do Sr. Ball em debates, como desculpa para sua existência infame, a necessidade de reprimir o crime que constantemente cria.
Sr. Ball - à sua honra seja dito, - durante os dias anti-escravidão, foi um abolicionista firme. Ele desejava ardentemente a abolição da escravatura. Sem dúvida ele se lembra de quantas vezes ele se encontrou com o argumento de que a escravidão era necessária para manter os negros analfabetos fora da corrupção, e que seria perigoso para dar liberdade a essa massa de ignorância. Sr. Ball esses dias exergou através do sofismo de tal raciocínio, e sabia que aqueles que o incitam fizeram isso para dar alguma cor de justificação moral para sua conduta de vida de luxo no trabalho forçada de escravos. Ele provavelmente estava acostumado a responder-lhes com alguma coisa assim: "É a instituição da escravidão que mantém os negros na ignorância, e justificar a escravidão no terreno de sua ignorância é a razão de um círculo e pede a mesma pergunta na questão."
Hoje o Sr. Ball - novamente, em sua honra seja dito - é um abolicionista religioso. Ele deseja ardentemente a abolição, ou pelo menos o desaparecimento, da Igreja. Quão frequentemente ele deve ter encontrado ou ouvido de um padre que, enquando disposto a privadamente admitir que as doutrinas da Igreja são um conjunto de delírios, argumenta que a religião é necessária para manter a superstição-mantendo as massa em ordem, e que sua libertação da sujeição mental em que os detém seria equivalente à sua precipitação em dissipação desenfreadal, libertinagem, e a última ruína. O Sr. Ball vê claramente através da falácia de tal lógica, e sabe que aqueles que a usam, o fazem para ganhar um estatuto moral em que se levanta para recolher os honorários do pobres tolos que não sabem melhor do que pagá-los. Nós podemos imaginar ele respondendo com uma desculpável indignação: "Patifes astutos, vocês sabem muito bem que é sua igreja que satura as pessoas com a superstição, e que justificar sua existência no terreno dessa superstição é pôr a carroça à frente dos bois e assumir o próprio ponto em disputa."
Agora, nós anarquistas somos abolicionistas políticos. Nós desejamos seriamente a abolição do Estado. Nossa posição sobre essa questão é paralela em muitos aspectos àqueles abolicionistas clericais e os abolicionistas da escravatura. Mas nesse caso o Sr. ball - à sua desgraça deve ser dito - toma o lado dos tiranos contra os abolicionistas, e levanta o grito tão freqüentemente levantados contra ele: O Estado é necessário para manter os ladrões e assassinos em subordinação, e, se não fosse o Estado, todos nós seríamos enforcados nas ruas e as nossas gargantas cortadas em nossas camas. Como o Sr. Ball olhou através do sofisma de seus oponentes, vemos agora através do dele, precisamente similar ao deles, embora saibamos que não é ele, mas os capitalistas que usam isso para cegar as pessoas com o objeto real da instituição em que eles estão autorizados a extorquir do trabalho a maior parte de seus produtos. Nós respondemos a ele como ele fez a seus oponentes, e de um modo não muito bem humorado: Você não enxerga que é o Estado que cria as condições que dão a luz ladrões e assassinos, e justificar sua existência em razão da prevalência de roubos e assassinatos é um processo lógico em cada parte tão absurdo como aqueles usados para derrotar os seus esforços para abolir a escravidão e a Igreja?
De uma vez por todas, então, não nos opomos à pena de ladrões e assassinos; opomo-nos à sua fabricação. Bem aqui, Sr. Ball, deve atacar-nos ou não.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Liberdade e Impostos-Benjamin Tucker

Contrato ou Organismo; O que é para nós?
Liberty, 30 de Julho de 1897

Uma discussão muito interessante e valiosa está acontecendo no London Jus no que toca a questão do imposto voluntário versus o compulsório. Na edição de 17 de Junho, há um comunicado de F.W. Read, que está na passagem a seguir:
“A proposta da taxação voluntária significa de fato a dissolução do Estado em seus átomos constituintes, e os deixa à vontade para se recombinar ou não de alguma forma, seguindo seu próprio destino [1]. Não haveria nada que prevenisse a existência desses cinco ou seis “Estados” na Inglaterra, e membros de todos esses “Estados” poderia viver na mesma casa! A proposta é ao que me parece, o resultado de uma idéia nas mentes daqueles que propõe que o Estado é, ou deveria ser, fundado sob um contrato, da mesma forma que uma sociedade empresarial o é. É uma idéia similar a defunta teoria do “contrato original’. Pensava-se que o Estado deveria se basear num contrato. Nunca houve contrato em nenhuma época; foi assumido então que teria havido um contrato pré-histórico. O defensor do imposto voluntário diz que nunca houve contrato algum: logo o Estado nunca possuiu base ética; dessa maneira, não faremos um contrato. A explicação completa, creio eu, foi dada pelo Sr. Wordsworth Donisthorpe, que o Estado é um organismo social, evoluído tal como todo outro organismo, e não precisando mais do que outros organismos ser baseado sob um contrato, seja original ou contemporâneo.”
A ideia que a taxação voluntária é uma objeção ao Estado precisamente porque este não se baseia sob um contrato, e pretende substituir contratos por ele, é completamente correta, e eu fico feliz de ver (pela primeira vez, se me lembro bem) um oponente captála. Mas o Sr. Read obscurece seu ponto pela sua afirmação anterior de que a proposta da taxação voluntária é o “resultado de uma idéia... que o Estado é, ou deveria ser, fundado sob um contrato”. Isso seria verdade se as palavras que eu deixei em itálico fossem omitidas. Foi a inserção dessas palavras que garantiram ao escritor as bases para sua analogia em outras circunstâncias sem nexo entre os Anarquistas e os seguidores de Rousseau. O último afirma que o Estado se originou num contrato, e que as pessoas de hoje em dia, apesar de não tê-lo assinado, estão submetidas a ele. Os Anarquistas, pelo contrário, negam que tal contrato tenha sido um dia feito; declaram que, se tal contrato tivesse sido firmado, não poderia impor um resquício de obrigação àqueles que não o firmaram; e advogam o direito de firmarem contratos entre-se como quiserem. A posição de um homem que faz seus próprios contratos, longe de ser análoga àquela que o sujeita a contratos feitos por terceiros, é sim sua antítese.
É perfeitamente verdade que o imposto voluntário não necessariamente "preveniria a existência de cinco ou seis "Estados" na Inglaterra", e que "membros de todos esses "Estados" pudessem viver na mesma casa". Mas eu não vejo motivo para o ponto de exclamação do Sr. Read após esta afirmação. E daí? Existem mais de cinco ou seis Igrejas na Inglaterra, e acontece frequentemente de membros de diversas delas vivem na mesma casa. Existem muito mais que cinco ou seis seguradoras na Inglaterra, e de forma alguma é incomum vermos membros da mesma família segurarem suas vidas e bens contra acidentes ou incêndios em firmas diferentes. Há algum mal eminente disto? Por que então, não deveria haver um número considerável de associações de defesa na Inglaterra, nas quais as pessoas, até membros da mesma família, posam confiar suas vidas e bens contra assassinos e ladrões? Apesar do Sr. Read ter captado uma das idéias dos defensores da taxação voluntária, eu temo que ele veja outra de maneira muito menos clara, - propriamente a de que a defesa é um serviço, como qualquer outro serviço; que é uma forma de trabalho tanto útil quanto desejável, e logo então um bem econômico sujeito a lei da oferta e demanda; que num livre mercado essa mercadoria será provida ao seu custo de produção; que, com a competição prevalecendo, o financiamento será dado àqueles que provenham o melhor artigo ao preço mais baixo; que a produção e a venda dessa mercadoria é atualmente monopolizada pelo Estado; que o Estado, como qualquer outro monopolista, cobra preços exorbitantes; que, como qualquer outro monopolista, provêm um artigo praticamente ou totalmente sem qualidade; que, assim como o monopolista de um tipo de alimento fornece veneno ao invés de nutrição, da mesma forma o Estado se aproveita de seu monopólio da defesa para fornecer invasões ao invés de proteção; que, assim como os pagantes de um pagam para serem envenenados, da mesma forma os pagantes do outro pagam para serem escravizados; e, finalmente, que o Estado supera todos seus outros companheiros de monopólio no que tange sua perversidade porque ele desfruta do privilégio único de obrigar a todos comprarem seu produto queiram ou não. se, então, cinco ou seis "Estados" exibissem suas placas[2], as pessoas, creio eu, seriam capazes de comprar o melhor tipo de segurança a um preço razoável. E o melhor, - quanto melhores seus serviços, menos seriam necessitados; de tal forma que a multiplicação dos "Estados" envolve a abolição do Estado.
Todas essas considerações, entretanto, estão descartadas, na opinião do Sr. Read, pela sua afirmativa final de que "o Estado é um organismo social". Ele considera isso "a explicação completa". Mas quanto a mim eu não vejo nisso nada senão outro comentário irrelevante. Eu pergunto novamente: E daí? Suponha que o Estado seja um organismo - e aí? Qual a inferência? Que o Estado é então permanente? Mas o que é a história senão a dissolução de organismos e o nascimento e crescimento de outros a serem por sua vez dissolvidos? O Estado está imune a esta ordem? Se está, por quê? O que prova isso? O Estado é um organismo? Sim; da mesma forma como um tigre. Mas a menos que eu encontre-o desarmado, seu organismo irá se desorganizar rapidamente. O Estado é um tigre procurando devorar o povo, e ele deve ou matá-lo ou aleijá-lo. Sua própria segurança depende disto. Mas o Sr. Read diz que isso não pode ser feito. "De forma alguma o poder do Estado pode ser restringido". Isso deve ser muito desapontante para o Sr. Donisthorpe e Jus, que estão trabalhando para restringi-lo. Se o Sr. Read estiver correto, seu trabalho será extinto. Está ele certo? A menos que ele possa demonstrar, os defensores do imposto voluntário e os Anarquistas continuarão seu serviço, alegres com a crença que o Estado compulsório e invasor esteja fadado a morrer.

A Natureza Do Estado
Liberty, 22 de Outubro de 1897

Abaixo está reimpressa do London Jus a resposta de F.W. Read ao editorial de número 104 de Liberty, intitulado de “Contrato Ou Organismo, O Que É Para Nós?”:
“Ao Editor de Jus:
Senhor, com referência as críticas do Sr. Tucker as minhas cartas em Jus que tratam da Taxação Voluntária, o princípio do organismo Estatal parece ser o cerne da controvérsia. Eu então lidarei com isto primeiro, apesar de vir depois no artigo do Sr. Tucker. Ele pergunta se o fato do Estado ser ou não um organismo faz dele permanente e o previne da dissolução. Certamente não; eu nunca disse isso. Mas o Sr. Tucker não consegue enxergar que dissolver um organismo é diferente de dissolver um conjunto de átomos sem qualquer estrutura orgânica? Se as pessoas vivendo sob um Estado tivessem sido aglomeradas de um dia para o outro, nenhum mau em particular teria aconteceria em dividi-las em numerosas seções independentes; mas quando um povo cresceu junto geração após geração, século após século, romper as adaptações e correlações que foram estabelecidas dificilmente pode ser produtora de bons resultados. O tigre é um organismo, diz o Sr. Tucker, mas se atingido irá rapidamente se desorganizar. Realmente; mas ninguém supõe que os átomos do corpo do tigre se beneficiam de alguma maneira com o processo. Por que os átomos do corpo político obteriam alguma vantagem da dissolução de um organismo do qual eles fazem parte? O Sr. Tucker colocar o Estado par a par com igrejas e seguradoras é simplesmente estupefante. Será que o Sr. Tucker realmente acredita que cinco ou seis “Estados” poderiam coexistir lado a lado com a mesma conveniência que um mesmo número de igrejas? A dificuldade de determinar qual “Estado” um indivíduo pertence ou não seria praticamente insuperável. Como assaltos e roubos serão confrontados? Um homem será julgado pelo “Estado” do qual ele é um cidadão ou pelo “Estado” do agressor? Como um policial de um “Estado” saberia por conta própria se certo indivíduo pertence a ele ou não? As dificuldades são tão enormes que o Estado logo seria reformado sob as velhas linhas. Outra grande dificuldade seria a de que o Estado consideraria impossível firmar um contrato. Se o Estado é tomado como uma mera coleção de indivíduos, que mprestará dinheiro para a dívida pública? O motivo de o Estado ter a confiança é o fato de ser tratado como algo acima e fora do alcance dos indivíduos que por acaso o compõe em dada época; porque sentimos que, enquanto os indivíduos morrem, o Estado permanece, e que o Estado honrará seus contratos, mesmo se feitos com propósitos que não têm a aprovação daqueles que são os átomos do organismo Estatal. Eu, de fato, ouvi dizer que seria uma coisa boa se o Estado se mostrasse incapaz de honrar suas obrigações; mas bom crédito parece tão útil para um Estado quanto para um indivíduo. Novamente, não é vantajoso para nós estarmos em condições de firmar tratados com países estrangeiros? Mas que país firmará um acordo com uma mera massa de indivíduos, grande parte dos quais estará morta em dez anos? Agora fora da questão de organismo ou não organismo, a história não nos mostra um contínuo enfraquecimento do Estado em algumas direções e um contínuo fortalecimento em outras? Observamos um desaparecimento gradual do desejo de “prover invasão ao invés de proteção”, e ao passo que o estado deixa de fazê-lo, mais forte ele se torna, e mais vigorosamente ele cumpre o que eu considero sua função primordial – a de proteger alguns contra a agressão de outros. Uma palavra final com relação ao poder de restrição do Estado. É claro que por restrição eu quero dizer restrição legal. Por exemplo, você não poderia privar o Estado de seu poder de taxação ao passar uma lei com tal objetivo. Os arquitetos do Ato de União entre Grã Bretanha e Irlanda tentaram restringir o poder do Estado para desestabilizar a Igreja Irlandesa; mas a Igreja Irlandesa foi desestabilizada apesar disto. O que os Individualistas estão tentando fazer é mostrar ao Estado que, quando ele regula fábricas e minas de carvão, e mil e uma coisas mais, ele está agindo em função de seus próprios interesses. Quando o Estado tiver aprendido a lição, a interferência cessará. Se o Sr. Tucker escolhe chamar aquilo de restringir o Estado, ele o é permitido; eu não o faço.
Sinceramente,
F.W. Read”

Em resposta à opinião do Sr. Read (a qual, se fosse verdade, com todas as suas implicações, seria uma resposta válida e final aos Anarquistas), que “dissolver um organismo é algo diferente de dissolver um conjunto de átomos sem qualquer estrutura orgânica”, eu não posso fazer melhor senão citar a seguinte passagem de um artigo de J. Wm. Lloyd no número 107 de Liberty:
“Parece-me que esse universo não passa de um agregado de indivíduos; de indivíduos simples e primários, e de indivíduos complexos, secundários, terciários, etc., formados pela agregação de indivíduos primários ou de indivíduos com um grau menor de complexidade. Alguns desses indivíduos de um grau elevado de complexidade são indivíduos verdadeiros, concretos, tão unidos que os organismos menores incluídos não conseguem existir a parte do organismo maior; enquanto outros são imperfeitos, discretos, os organismos inclusos existem muito bem, tão bem quanto ou melhores, a parte do que unidos. Na primeira classe estão incluídas muitas das formas superiores de vida vegetal e animal, incluindo o homem, e na última inclusas várias formas inferiores de vida vegetal e animal (gramíneas, vermes, etc.), e a maioria dos organismos da sociedade, como governos, nações, igrejas, exércitos, etc.”
Tomando essa visão inquestionável do assunto, se torna claro que a argumento do Sr. Read sobre “dissolver um organismo” é falso tão enquanto a palavra organismo permanece desqualificada por algum adjetivo equivalente ao concreto do Sr. Lloyd. A questão, então, é se o Estado é um organismo concreto. Os Anarquistas alegam que não. Se o Sr. Read pensa que ele é, o ônus da prova está sobre ele. Eu julgo que esse erro surge de uma confusão do Estado com a sociedade. A sociedade é um organismo concreto que os Anarquistas não negam; pelo contrário, eles insistem nela. Consequentemente eles não tem intenção ou desejo de aboli-la. Eles sabem que sua vida é inseparável da vida dos indivíduos; que é impossível destruir um sem destruir os outros. Mas, apesar da sociedade não poder ser destruída, ela pode ser gravemente impedida e embaraçada nas suas operações, resultando numa desvantagem para os indivíduos que a compõe, e ela conhece seu maior impedimento no Estado. O Estado, diferentemente da sociedade, é um organismo discreto. Se ele fosse destruído amanhã, os indivíduos continuariam existindo. A produção, a troca, e a associação continuariam como antes, mas muito mais livres, e todas as funções sociais das quais o indivíduo é dependente operariam em seu benefício muito mais soberanamente do que nunca. O indivíduo não se relaciona com o Estado da mesma maneira que a pata do tigre está relacionada com o último. Mate o tigre, e a pata do tigre não mais cumpre seu papel; mate o Estado, e o indivíduo ainda vive e satisfaz seus desejos. Quanto à sociedade, os Anarquistas não a matariam se pudessem, e não poderiam se o tentassem.
O Sr. Read acha estupefante que eu “coloque o Estado par a par com igrejas e seguradoras”. Já eu considero sua estupefatez cômica. Crédulos em sistemas religiosos compulsórios ficaram estupefatos quando se propôs pela primeira vez colocar a igreja no mesmo nível de outras associações. Atualmente a única estupefatez é – pelo menos nos Estados Unidos – que a igreja seja permitida ficar em qualquer nível. Mas a superstição política substituiu a superstição religiosa, e o Sr. Read está sob sua influência.
Eu não penso que “cinco ou seis “Estados” poderiam existir lado a lado com” quase toda “a mesma conveniência que número igual de igrejas”. Nas relações entre os Estados há mais chance de atrito do que na simples esfera religiosa. Mas, por outro lado, o atrito resultante de uma multiplicidade de Estados seria um reles montinho comparado com a montanha de opressão e injustiça a qual é gradualmente empilhada por um único Estado compulsório. Não seria necessário para um policial de um “Estado” voluntário saber a qual “Estado” um dado indivíduo pertence, ou se ele pertence a algum. “Estados” voluntários poderiam, e provavelmente iriam, autorizar seus executores a proceder contra invasão, não importando quem seja o invasor ou o invadido. O Sr. Read provavelmente objetará que o “Estado” ao qual o invasor pertencesse poderia tomar sua prisão como uma invasão, e tomar medidas contra o “Estado” que o tivesse detido. A antecipação de tais conflitos provavelmente resultaria exatamente naqueles tratados entre “Estados” os quais o Sr. Read considera tão desejáveis, e até mesmo no estabelecimento de tribunais federais, como cortes de última instância, pela cooperação dos vários “Estados”, sob o mesmo princípio voluntário de acordo com o qual os próprios “Estados” seriam organizados.
O imposto voluntário, longe de restringir o crédito “Estatal”, o alimentaria. Em primeiro lugar, a simplificação de suas funções reduziria enormemente, talvez até completamente, sua necessidade de contrair empréstimos, e sabe-se que o poder de empréstimo é geralmente inversamente proporcional a constância da necessidade. Normalmente é o devedor que não possui bom crédito. Em segundo lugar, o poder do Estado de repudiar, e ainda continuar seu negócio, é dependente do seu poder de imposto obrigatório. Ele sabe que, quando não puder mais emprestar, ele pode ao menos taxar seus cidadãos até o limite da revolução. Terceiro, o Estado goza de confiança, não porque ele está acima e fora do alcance dos indivíduos, mas sim porque seus credores presumem que ele deseja manter seu crédito e dessa forma continuará a pagar seus débitos. Esse desejo por crédito será mais forte num “Estado” apoiado por impostos voluntários do que num Estado que obriga tais pagamentos.
Todas as objeções trazidas à tona pelo Sr. Read (exceção feita ao argumento do organismo) são meras dificuldades de detalhe administrativo, a serem superadas pela perspicácia, paciência, precaução, e diligência. Elas não são dificuldades lógicas, nem dificuldades de princípio. Elas o parecem “enormes”; mas do mesmo jeito pareciam as dificuldades da liberdade de pensamento dois séculos atrás. O que será que ele pensa sobre as dificuldades do regime atual? Aparentemente ele está tão cego a elas quanto a Igreja Católica as dificuldades de uma religião Estatal. Todas essas “enormes” dificuldades as quais se levantam para o deleite dos contrários ao princípio da voluntariedade desaparecerão gradualmente sob a influência de mudanças econômicas e prosperidade bem distribuída que seguirão a adoção de tal princípio. É isso o que Proudhon chama de “dissolução do governo no organismo econômico”. É um assunto muito vasto para ser considerado aqui, mas, se o Sr. Read deseja entender a teori Anarquista do processo, deixe o estudar o mais esplêndido de todos os esplêndidos livros de Proudhon, a “Idéia Geral Da Revolução No Século Dezenove”.
É verdade que a “história mostra um contínuo enfraquecimento do Estado em algumas direções, e um contínuo fortalecimento em outras”. Pelo menos, tal é a tendência, em termos gerais, apesar de essa continuidade ser de vez em quando interrompida por períodos de reação. A tendência é simplesmente o progresso da evolução em direção a Anarquia. O Estado invade cada vez menos e menos, e protege mais e mais. É exatamente nessa linha de processo, e ao final dela, que os Anarquistas demandam o abandono da última fortaleza de invasão pela substituição da taxação voluntária pela compulsória. Quando esse passo for dado, o “Estado” atingirá sua força máxima como protetor contra agressões, e a manterá enquanto seus serviços forem necessários em tal capacidade.
Se o Sr. Read, ao dizer que o poder do Estado pode não pode ser restringido, simplesmente quer dizer que ele não pode ser legalmente restringido, sua afirmação não serve como uma resposta aos Anarquistas nem aos defensores do imposto voluntário. Eles não propõem restringi-lo legalmente. Eles propõem criar um sentimento público que tornará impossível para o Estado coletar impostos à força ou invadir o indivíduo de qualquer outra maneira. Ao tomar o Estado como um instrumento de agressão, eles não esperam convence-los que a agressão é contrária aos seus interesses, mas esperam convencer os indivíduos que é contra seus próprios interesses ser invadido. Se por esses meios eles obtiverem sucesso em privar o Estado de seus poderes invasivos, eles estarão satisfeitos, e para eles é imaterial se os meios descritos pela palavra “restringir” ou qualquer outra palavra. De fato, eu me esforcei nessa discussão para me acomodar a fraseologia do Sr. Read. Minha opinião verdadeira é que eu não creio ser apropriado chamar associações voluntárias de Estados, mas, confinando a palavra a marcas de citação, eu a usei porque o Sr. Read deu o exemplo.

Socialismo estatal e Anarquismo: Benjamin Tucker

Esse ensaio, que é a declaração mais clara sobre o assunto que já foi produzida, foi escrito pelo Sr. Tucker em 1889, em resposta a um pedido de um editor da North American Review para fornecer a ele uma página sobre Anarquismo. Foi aceito, anunciado para publicação, e também pago por isso; mas nunca foi impresso na revista, e, depois de muitas cartas interrogando isso serem enviadas, o manuscrito foi devolvido ao autor, embora o editor da revista tivesse declarado que era o mais hábil artigo que ele havia recebido durante a sua editoria. Parecia com o artigo principal, "Instead of a Book", e, depois de quarenta anos, ainda é facilmente a coisa mais importante no presente volume:

Probably no agitation has ever attained the magnitude, either in the number of its recruits or the area of its influence, which has been attained by Modern Socialism, and at the same time been so little understood and so misunderstood, not only by the hostile and the indifferent, but by the friendly, and even by the great mass of its adherents themselves. This unfortunate and highly dangerous state of things is due partly to the fact that the human relationships which this movement - if anything so chaotic can be called a movement - aims to transform, involve no special class or classes, but literally all mankind; partly to the fact that these relationships are infinitely more varied and complex in their nature than those with which any special reform has ever been called upon to deal; and partly to the fact that the great moulding forces of society, the channels of information and enlightenment, are well-nigh exclusively under the control of those whose immediate pecuniary interests are antagonistic to the bottom claim of Socialism that labor should be put in possession of its own.
Almost the only persons who may be said to comprehend even approximately the significance, principles, and purposes of Socialism are the chief leaders of the extreme wings of the Socialistic forces, and perhaps a few of the money kings themselves. It is a subject of which it has lately become quite the fashion for preacher, professor, and penny-a-liner to treat, and, for the most part, woeful work they have made with it, exciting the derision and pity of those competent to judge. That those prominent in the intermediate Socialistic divisions do not fully understand what they are about is evident from the positions they occupy. If they did; if they were consistent, logical thinkers; if they were what the French call consequent men, - their reasoning faculties would long since have driven them to one extreme or the other.
For it is a curious fact that the two extremes of the vast army now under consideration, though united, as has been hinted above, by the common claim that labor shall be put in possession of its own, are more diametrically opposed to each other in their fundamental principles of social action and their methods of reaching the ends aimed at than either is to their common enemy, the existing society. They are based on two principles the history of whose conflict is almost equivalent to the history of the world since man came into it; and all intermediate parties, including that of the upholders of the existing society, are based upon a compromise between them. It is clear, then, that any intelligent, deep-rooted opposition to the prevailing order of things must come from one or the other of these extremes, for anything from any other source, far from being revolutionary in character, could be only in the nature of such superficial modification as would be utterly unable to concentrate upon itself the degree of attention and interest now bestowed upon Modern Socialism.
The two principles referred to are Authority and Liberty, and the names of the two schools of Socialistic thought which fully and unreservedly represent one or the other of them are, respectively, State Socialism and Anarchism. Whoso knows what these two schools want and how they propose to get it understands the Socialistic movement. For, just as it has been said that there is no half-way house between Rome and Reason, so it may be said that there is no half-way house between State Socialism and Anarchism. There are, in fact, two currents steadily flowing from the center of the Socialistic forces which are concentrating them on the left and on the right; and, if Socialism is to prevail, it is among the possibilities that, after this movement of separation has been completed and the existing order have been crushed out between the two camps, the ultimate and bitterer conflict will be still to come. In that case all the eight-hour men, all the trades-unionists, all the Knights of Labor, all the land nationalizationists, all the greenbackers, and, in short, all the members of the thousand and one different battalions belonging to the great army of Labor, will have deserted their old posts, and, these being arrayed on the one side and the other, the great battle will begin. What a final victory for the State Socialists will mean, and what a final victory for the Anarchists will mean, it is the purpose of this paper to briefly state.
To do this intelligently, however, I must first describe the ground common to both, the features that make Socialists of each of them.
The economic principles of Modern Socialism are a logical deduction from the principle laid down by Adam Smith in the early chapters of his "Wealth of Nations," - namely, that labor is the true measure of price. But Adam Smith, after stating this principle most clearly and concisely, immediately abandoned all further consideration of it to devote himself to showing what actually does measure price, and how, therefore, wealth is at present distributed. Since his day nearly all the political economists have followed his example by confining their function to the description of society as it is, in its industrial and commercial phases. Socialism, on the contrary, extends its function to the description of society as it should be, and the discovery of the means of making it what it should be. Half a century or more after Smith enunciated the principle above stated, Socialism picked it up where he had dropped it, and in following it to its logical conclusions, made it the basis of a new economic philosophy.
This seems to have been done independently by three different men, of three different nationalities, in three different languages: Josiah Warren, an American; Pierre J. Proudhon, a Frenchman; Karl Marx, a German Jew. That Warren and Proudhon arrived at their conclusions singly and unaided is certain; but whether Marx was not largely indebted to Proudhon for his economic ideas is questionable. However this may be, Marx's presentation of the ideas was in so many respects peculiarly his own that he is fairly entitled to the credit of originality. That the work of this interesting trio should have been done so nearly simultaneously would seem to indicate that Socialism was in the air, and that the time was ripe and the conditions favorable for the appearance of this new school of thought. So far as priority of time is concerned, the credit seems to belong to Warren, the American, - a fact which should be noted by the stump orators who are so fond of declaiming against Socialism as an imported article. Of the purest revolutionary blood, too, this Warren, for he descended from the Warren who fell at Bunker Hill.
From Smith's principle that labor is the true measure of price - or, as Warren phrased it, that cost is the proper limit of price - these three men made the following deductions: that the natural wage of labor is its product; that this wage, or product, is the only just source of income (leaving out, of course, gift, inheritance, etc.); that all who derive income from any other source abstract it directly or indirectly from the natural and just wage of labor; that this abstracting process generally takes one of three forms, - interest, rent, and profit; that these three constitute the trinity of usury, and are simply different methods of levying tribute for the use of capital; that, capital being simply stored-up labor which has already received its pay in full, its use ought to be gratuitous, on the principle that labor is the only basis of price; that the lender of capital is entitled to its return intact, and nothing more; that the only reason why the banker, the stockholder, the landlord, the manufacturer, and the merchant are able to exact usury from labor lies in the fact that they are backed by legal privilege, or monopoly; and that the only way to secure labor the enjoyment of its entire product, or natural wage, is to strike down monopoly.
It must not be inferred that either Warren, Proudhon, or Marx used exactly this phraseology, or followed exactly this line of thought, but it indicates definitely enough the fundamental ground taken by all three, and their substantial thought up to the limit to which they went in common. And, lest I may be accused of stating the positions and arguments of these men incorrectly, it may be well to say in advance that I have viewed them broadly, and that, for the purpose of sharp, vivid, and emphatic comparison and contrast, I have taken considerable liberty with their thought by rearranging it in an order, and often in a phraseology, of my own, but, I am satisfied, without, in so doing, misrepresenting them in any essential particular.
It was at this point - the necessity of striking down monopoly - that came the parting of their ways. Here the road forked. They found that they must turn either to the right or to the left, - follow either the path of Authority or the path of Liberty. Marx went one way; Warren and Proudhon the other. Thus were born State Socialism and Anarchism.
First, then, State Socialism, which may be described as the doctrine that all the affairs of men should be managed by the government, regardless of individual choice.
Marx, its founder, concluded that the only way to abolish the class monopolies was to centralize and consolidate all industrial and commercial interests, all productive and distributive agencies, in one vast monopoly in the hands of the State. The government must become banker, manufacturer, farmer, carrier, and merchant, and in these capacities must suffer no competition. Land, tools, and all instruments of production must be wrested from individual hands, and made the property of the collectivity. To the individual can belong only the products to be consumed, not the means of producing them. A man may own his clothes and his food, but not the sewing-machine which makes his shirts or the spade which digs his potatoes. Product and capital are essentially different things; the former belongs to individuals, the latter to society. Society must seize the capital which belongs to it, by the ballot if it can, by revolution if it must. Once in possession of it, it must administer it on the majority principle, though its organ, the State, utilize it in production and distribution, fix all prices by the amount of labor involved, and employ the whole people in its workshops, farms, stores, etc. The nation must be transformed into a vast bureaucracy, and every individual into a State official. Everything must be done on the cost principle, the people having no motive to make a profit out of themselves. Individuals not being allowed to own capital, no one can employ another, or even himself. Every man will be a wage-receiver, and the State the only wage-payer. He who will not work for the State must starve, or, more likely, go to prison. All freedom of trade must disappear. Competition must be utterly wiped out. All industrial and commercial activity must be centered in one vast, enormous, all-inclusive monopoly. The remedy for monopolies is monopoly.
Such is the economic programme of State Socialism as adopted from Karl Marx. The history of its growth and progress cannot be told here. In this country the parties that uphold it are known as the Socialistic Labor Party, which pretends to follow Karl Marx; the Nationalists, who follow Karl Marx filtered through Edward Bellamy; and the Christian Socialists, who follow Karl Marx filtered through Jesus Christ.
What other applications this principle of Authority, once adopted in the economic sphere, will develop is very evident. It means the absolute control by the majority of all individual conduct. The right of such control is already admitted by the State Socialists, though they maintain that, as a matter of fact, the individual would be allowed a much larger liberty than he now enjoys. But he would only be allowed it; he could not claim it as his own. There would be no foundation of society upon a guaranteed equality of the largest possible liberty. Such liberty as might exist would exist by sufferance and could be taken away at any moment. Constitutional guarantees would be of no avail. There would be but one article in the constitution of a State Socialistic country: "The right of the majority is absolute."
The claim of the State Socialists, however, that this right would not be exercised in matters pertaining to the individual in the more intimate and private relations of his life is not borne out by the history of governments. It has ever been the tendency of power to add to itself, to enlarge its sphere, to encroach beyond the limits set for it; and where the habit of resisting such encroachment is not fostered, and the individual is not taught to be jealous of his rights, individuality gradually disappears and the government or State becomes the all-in-all. Control naturally accompanies responsibility. Under the system of State Socialism, therefore, which holds the community responsible for the health, wealth, and wisdom of the individual, it is evident that the community, through its majority expression, will insist more and more in prescribing the conditions of health, wealth, and wisdom, thus impairing and finally destroying individual independence and with it all sense of individual responsibility.
Whatever, then, the State Socialists may claim or disclaim, their system, if adopted, is doomed to end in a State religion, to the expense of which all must contribute and at the altar of which all must kneel; a State school of medicine, by whose practitioners the sick must invariably be treated; a State system of hygiene, prescribing what all must and must not eat, drink, wear, and do; a State code of morals, which will not content itself with punishing crime, but will prohibit what the majority decide to be vice; a State system of instruction, which will do away with all private schools, academies, and colleges; a State nursery, in which all children must be brought up in common at the public expense; and, finally, a State family, with an attempt at stirpiculture, or scientific breeding, in which no man and woman will be allowed to have children if the State prohibits them and no man and woman can refuse to have children if the State orders them. Thus will Authority achieve its acme and Monopoly be carried to its highest power.
Such is the ideal of the logical State Socialist, such the goal which lies at the end of the road that Karl Marx took. Let us now follow the fortunes of Warren and Proudhon, who took the other road, - the road of Liberty.
This brings us to Anarchism, which may be described as the doctrine that all the affairs of men should be managed by individuals or voluntary associations, and that the State should be abolished.
When Warren and Proudhon, in prosecuting their search for justice to labor, came face to face with the obstacle of class monopolies, they saw that these monopolies rested upon Authority, and concluded that the thing to be done was, not to strengthen this Authority and thus make monopoly universal, but to utterly uproot Authority and give full sway to the opposite principle, Liberty, by making competition, the antithesis of monopoly, universal. They saw in competition the great leveler of prices to the labor cost of production. In this they agreed with the political economists. They query then naturally presented itself why all prices do not fall to labor cost; where there is any room for incomes acquired otherwise than by labor; in a word, why the usurer, the receiver of interest, rent, and profit, exists. The answer was found in the present one-sidedness of competition. It was discovered that capital had so manipulated legislation that unlimited competition is allowed in supplying productive labor, thus keeping wages down to the starvation point, or as near it as practicable; that a great deal of competition is allowed in supplying distributive labor, or the labor of the mercantile classes, thus keeping, not the prices of goods, but the merchants' actual profits on them down to a point somewhat approximating equitable wages for the merchants' work; but that almost no competition at all is allowed in supplying capital, upon the aid of which both productive and distributive labor are dependent for their power of achievement, thus keeping the rate of interest on money and of house-rent and ground-rent at as high a point as the necessities of the people will bear.
On discovering this, Warren and Proudhon charged the political economists with being afraid of their own doctrine. The Manchester men were accused of being inconsistent. The believed in liberty to compete with the laborer in order to reduce his wages, but not in liberty to compete with the capitalist in order to reduce his usury. Laissez Faire was very good sauce for the goose, labor, but was very poor sauce for the gander, capital. But how to correct this inconsistency, how to serve this gander with this sauce, how to put capital at the service of business men and laborers at cost, or free of usury, - that was the problem.
Marx, as we have seen, solved it by declaring capital to be a different thing from product, and maintaining that it belonged to society and should be seized by society and employed for the benefit of all alike. Proudhon scoffed at this distinction between capital and product. He maintained that capital and product are not different kinds of wealth, but simply alternate conditions or functions of the same wealth; that all wealth undergoes an incessant transformation from capital into product and from product back into capital, the process repeating itself interminably; that capital and product are purely social terms; that what is product to one man immediately becomes capital to another, and vice versa; that if there were but one person in the world, all wealth would be to him at once capital and product; that the fruit of A's toil is his product, which, when sold to B, becomes B's capital (unless B is an unproductive consumer, in which case it is merely wasted wealth, outside the view of social economy); that a steam-engine is just as much product as a coat, and that a coat is just as much capital as a steam-engine; and that the same laws of equity govern the possession of the one that govern the possession of the other.
For these and other reasons Proudhon and Warren found themselves unable to sanction any such plan as the seizure of capital by society. But, though opposed to socializing the ownership of capital, they aimed nevertheless to socialize its effects by making its use beneficial to all instead of a means of impoverishing the many to enrich the few. And when the light burst in upon them, they saw that this could be done by subjecting capital to the natural law of competition, thus bringing the price of its own use down to cost, - that is, to nothing beyond the expenses incidental to handling and transferring it. So they raised the banner of Absolute Free Trade; free trade at home, as well as with foreign countries; the logical carrying out of the Manchester doctrine; laissez faire the universal rule. Under this banner they began their fight upon monopolies, whether the all-inclusive monopoly of the State Socialists, or the various class monopolies that now prevail.
Of the latter they distinguished four of principal importance: the money monopoly, the land monopoly, the tariff monopoly, and the patent monopoly.
First in the importance of its evil influence they considered the money monopoly, which consists of the privilege given by the government to certain individuals, or to individuals holding certain kinds of property, of issuing the circulating medium, a privilege which is now enforced in this country by a national tax of ten per cent., upon all other persons who attempt to furnish a circulating medium, and by State laws making it a criminal offense to issue notes as currency. It is claimed that the holders of this privilege control the rate of interest, the rate of rent of houses and buildings, and the prices of goods, - the first directly, and the second and third indirectly. For, say Proudhon and Warren, if the business of banking were made free to all, more and more persons would enter into it until the competition should become sharp enough to reduce the price of lending money to the labor cost, which statistics show to be less than three-fourths of once per cent. In that case the thousands of people who are now deterred from going into business by the ruinously high rates which they must pay for capital with which to start and carry on business will find their difficulties removed. If they have property which they do not desire to convert into money by sale, a bank will take it as collateral for a loan of a certain proportion of its market value at less than one per cent. discount. If they have no property, but are industrious, honest, and capable, they will generally be able to get their individual notes endorsed by a sufficient number of known and solvent parties; and on such business paper they will be able to get a loan at a bank on similarly favorable terms. Thus interest will fall at a blow. The banks will really not be lending capital at all, but will be doing business on the capital of their customers, the business consisting in an exchange of the known and widely available credits of the banks for the unknown and unavailable, but equality good, credits of the customers and a charge therefor of less than one per cent., not as interest for the use of capital, but as pay for the labor of running the banks. This facility of acquiring capital will give an unheard of impetus to business, and consequently create an unprecedented demand for labor, - a demand which will always be in excess of the supply, directly to the contrary of the present condition of the labor market. Then will be seen and exemplification of the worlds of Richard Cobden that, when two laborers are after one employer, wages fall, but when two employers are after one laborer, wages rise. Labor will then be in a position to dictate its wages, and will thus secure its natural wage, its entire product. Thus the same blow that strikes interest down will send wages up. But this is not all. Down will go profits also. For merchants, instead of buying at high prices on credit, will borrow money of the banks at less than one per cent., buy at low prices for cash, and correspondingly reduce the prices of their goods to their customers. And with the rest will go house-rent. For no one who can borrow capital at one per cent. with which to build a house of his own will consent to pay rent to a landlord at a higher rate than that. Such is the vast claim made by Proudhon and Warren as to the results of the simple abolition of the money monopoly.
Second in importance comes the land monopoly, the evil effects of which are seen principally in exclusively agricultural countries, like Ireland. This monopoly consists in the enforcement by government of land titles which do not rest upon personal occupancy and cultivation. It was obvious to Warren and Proudhon that, as soon as individualists should no longer be protected by their fellows in anything but personal occupancy and cultivation of land, ground-rent would disappear, and so usury have one less leg to stand on. Their followers of today are disposed to modify this claim to the extent of admitting that the very small fraction of ground-rent which rests, not on monopoly, but on superiority of soil or site, will continue to exist for a time and perhaps forever, though tending constantly to a minimum under conditions of freedom. But the inequality of soils which gives rise to the economic rent of land, like the inequality of human skill which gives rise to the economic rent of ability, is not a cause for serious alarm even to the most thorough opponent of usury, as its nature is not that of a germ from which other and graver inequalities may spring, but rather that of a decaying branch which may finally wither and fall.
Third, the tariff monopoly, which consists in fostering production at high prices and under unfavorable conditions by visiting with the penalty of taxation those who patronize production at low prices and under favorable conditions. The evil to which this monopoly gives rise might more properly be called misusury than usury, because it compels labor to pay, not exactly for the use of capital, but rather for the misuse of capital. The abolition of this monopoly would result in a great reduction in the prices of all articles taxed, and this saving to the laborers who consume these articles would be another step toward securing to the laborer his natural wage, his entire product. Proudhon admitted, however, that to abolish this monopoly before abolishing the money monopoly would be a cruel and disastrous police, first, because the evil of scarcity of money, created by the money monopoly, would be intensified by the flow of money out of the country which would be involved in an excess of imports over exports, and, second, because that fraction of the laborers of the country which is now employed in the protected industries would be turned adrift to face starvation without the benefit of the insatiable demand for labor which a competitive money system would create. Free trade in money at home, making money and work abundant, was insisted upon by Proudhon as a prior condition of free trade in goods with foreign countries.
Fourth, the patent monopoly, which consists in protecting inventors and authors against competition for a period long enough to enable them to extort from the people a reward enormously in excess of the labor measure of their services, - in other words, in giving certain people a right of property for a term of years in laws and facts of Nature, and the power to exact tribute from others for the use of this natural wealth, which should be open to all. The abolition of this monopoly would fill its beneficiaries with a wholesome fear of competition which would cause them to be satisfied with pay for their services equal to that which other laborers get for theirs, and to secure it by placing their products and works on the market at the outset at prices so low that their lines of business would be no more tempting to competitors than any other lines.
The development of the economic programme which consists in the destruction of these monopolies and the substitution for them of the freest competition led its authors to a perception of the fact that all their thought rested upon a very fundamental principle, the freedom of the individual, his right of sovereignty over himself, his products, and his affairs, and of rebellion against the dictation of external authority. Just as the idea of taking capital away from individuals and giving it to the government started Marx in a path which ends in making the government everything and the individual nothing, so the idea of taking capital away from government-protected monopolies and putting it within easy reach of all individuals started Warren and Proudhon in a path which ends in making the individual everything and the government nothing. If the individual has a right to govern himself, all external government is tyranny. Hence the necessity of abolishing the State. This was the logical conclusion to which Warren and Proudhon were forced, and it became the fundamental article of their political philosophy. it is the doctrine which Proudhon named An-archism, a word derived from the Greek, and meaning, not necessarily absence of order, as is generally supposed, but an absence of rule. The Anarchists are simply unterrified Jeffersonian Democrats. They believe that "the best government is that which governs least," and that that which governs least is no government at all. Even the simple police function of protecting person and property they deny to governments supported by compulsory taxation. Protection they look upon as a thing to be secured, as long as it is necessary, by voluntary association and cooperation for self-defence, or as a commodity to be purchased, like any other commodity, of those who offer the best article at the lowest price. In their view it is in itself an invasion of the individual to compel him to pay for or suffer a protection against invasion that he has not asked for and does not desire. And they further claim that protection will become a drug in the market, after poverty and consequently crime have disappeared through the realization of their economic programme. Compulsory taxation is to them the life-principle of all the monopolies, and passive, but organized, resistance to the tax- collector they contemplate, when the proper time comes, as one of the most effective methods of accomplishing their purposes.
Their attitude on this is a key to their attitude on all other questions of a political or social nature. In religion they are atheistic as far as their own opinions are concerned, for they look upon divine authority and the religious sanction of morality as the chief pretexts put forward by the privileged classes for the exercise of human authority. "If God exists," said Proudhon, "he is man's enemy." And in contrast to Voltaire's famous epigram, "If God did not exist, it would be necessary to invent him," the great Russian Nihilist, Mikhail Bakunin, placed this antithetical proposition: "If God existed, it would be necessary to abolish him." But although, viewing the divine hierarchy as a contradiction of Anarchy, they do not believe in it, the Anarchists none the less firmly believe in the liberty to believe in it. Any denial of religious freedom they squarely oppose.
Upholding thus the right of every individual to be or select his own priest, they likewise uphold his right to be or select his own doctor. No monopoly in theology, no monopoly in medicine. Competition everywhere and always; spiritual advice and medical advice alike to stand or fall on their own merits. And not only in medicine, but in hygiene, must this principle of liberty be followed. The individual may decide for himself not only what to do to get well, but what to do to keep well. No external power must dictate to him what he must and must not eat, drink, wear, or do.
Nor does the Anarchistic scheme furnish any code of morals to be imposed upon the individual. "Mind your own business" is its only moral law. Interference with another's business is a crime and the only crime, and as such may properly be resisted. In accordance with this view the Anarchists look upon attempts to arbitrarily suppress vice as in themselves crimes. They believe liberty and the resultant social well-being to be a sure cure for all the vices. But they recognize the right of the drunkard, the gambler, the rake, and the harlot to live their lives until they shall freely choose to abandon them.
In the matter of the maintenance and rearing of children the Anarchists would neither institute the communistic nursery which the State Socialists favor nor keep the communistic school system which now prevails. The nurse and the teacher, like the doctor and the preacher, must be selected voluntarily, and their services must be paid for by those who patronize them. Parental rights must not be taken away, and parental responsibilities must not be foisted upon others.
Even in so delicate a matter as that of the relations of the sexes the Anarchists do not shrink from the application of their principle. They acknowledge and defend the right of any man and woman, or any men and women, to love each other for as long or as short a time as they can, will, or may. To them legal marriage and legal divorce are equal absurdities. They look forward to a time when every individual, whether man or woman, shall be self-supporting, and when each shall have an independent home of his or her own, whether it be a separate house or rooms in a house with others; when the love relations between these independent individuals shall be as varied as are individual inclinations and attractions; and when the children born of these relations shall belong exclusively to the mothers until old enough to belong to themselves.
Such are the main features of the Anarchistic social ideal. There is wide difference of opinion among those who hold it as to the best method of obtaining it. Time forbids the treatment of that phase of the subject here. I will simply call attention to the fact that it is an ideal utterly inconsistent with that of those Communists who falsely call themselves Anarchists while at the same time advocating a regime of Archism fully as despotic as that of the State Socialists themselves. And it is an ideal that can be as little advanced by Prince Kropotkine as retarded by the brooms of those Mrs. Partingtons of the bench who sentence them to prison; an ideal which the martyrs of Chicago did far more to help by their glorious death upon the gallows for the common cause of Socialism than by their unfortunate advocacy during their lives, in the name of Anarchism, of force as a revolutionary agent and authority as a safeguard of the new social order. The Anarchists believe in liberty both as an end and means, and are hostile to anything that antagonizes it.
I should not undertake to summarize this altogether too summary exposition of Socialism from the standpoint of Anarchism, did I not find the task already accomplished for me by a Brilliant French journalist and historian, Ernest Lesigne, in the form of a series of crisp antithesis; by reading which to you as a conclusion of this lecture I hope to deepen the impression which it has been my endeavor to make.
"There are two Socialisms. One is communistic, the other solidaritarian. One is dictatorial, the other libertarian. One is metaphysical, the other positive. One is dogmatic, the other scientific. One is emotional, the other reflective. One is destructive, the other constructive. Both are in pursuit of the greatest possible welfare for all. One aims to establish happiness for all, the other to enable each to be happy in his own way. The first regards the State as a society sui generis, of an especial essence, the product of a sort of divine right outside of and above all society, with special rights and able to exact special obediences; the second considers the State as an association like any other, generally managed worse than others. The first proclaims the sovereignty of the State, the second recognizes no sort of sovereign. One wishes all monopolies to be held by the State; the other wishes the abolition of all monopolies. One wishes the governed class to become the governing class; the other wishes the disappearance of classes. Both declare that the existing state of things cannot last. The first considers revolutions as the indispensable agent of evolutions; the second teaches that repression alone turns evolutions into revolution. The first has faith in a cataclysm. The second knows that social progress will result from the free play of individual efforts. Both understand that we are entering upon a new historic phase. One wishes that there should be none but proletaires. The other wishes that there should be no more proletaires. The first wishes to take everything away from everybody. The second wishes to leave each in possession of its own. The one wishes to expropriate everybody. The other wishes everybody to be a proprietor. The first says: 'Do as the government wishes." The second says: 'Do as you wish yourself.' The former threatens with despotism. The latter promises liberty. The former makes the citizen the subject of the State. The latter makes the State the employee of the citizen. One proclaims that labor pains will be necessary to the birth of a new world. The other declares that real progress will not cause suffering to any one. The first has confidence in social war. The other believes only in the works of peace. One aspires to command, to regulate, to legislate. The other wishes to attain the minimum of command, of regulation, of legislation. One would be followed by the most atrocious of reactions. The other opens unlimited horizons to progress. The first will fail; the other will succeed. Both desire equality. One by lowering heads that are too high. The other by raising heads that are too low. One sees equality under a common yoke. The other will secure equality in complete liberty. One is intolerant, the other tolerant. One frightens, the other reassures. The first wishes to instruct everybody. The second wishes to enable everybody to instruct himself. The first wishes to support everybody. The second wishes to enable everybody to support himself. One says: The land to the State The mine to the State The tool to the State The product to the State The other says: The land to the cultivator. The mine to the miner. The tool to the laborer. The product to the producer. There are only these two Socialisms. One is the infancy of Socialism; the other is its manhood. One is already the past; the other is the future. One will give place to the other.
Today each of us must choose for the one or the other of these two Socialisms, or else confess that he is not a Socialist."
POSTSCRIPT
Forty years ago, when the foregoing essay was written, the denial of competition had not yet effected the enormous concentration of wealth that now so gravely threatens social order. It was not yet too late to stem the current of accumulation by a reversal of the policy of monopoly. The Anarchistic remedy was still applicable.
Today the way is not so clear. The four monopolies, unhindered, have made possible the modern development of the trust, and the trust is now a monster which I fear, even the freest banking, could it be instituted, would be unable to destroy. As long as the Standard Oil group controlled only fifty millions of dollars, the institution of free competition would have crippled it hopelessly; it needed the money monopoly for its sustenance and its growth. Now that it controls, directly and indirectly, perhaps ten thousand millions, it sees in the money monopoly a convenience, to be sure, but no longer a necessity. It can do without it. Were all restrictions upon banking to be removed, concentrated capital could meet successfully the new situation by setting aside annually for sacrifice a sum that would remove every competitor from the field.
If this be true, then monopoly, which can be controlled permanently only for economic forces, has passed for the moment beyond their reach, and must be grappled with for a time solely by forces political or revolutionary. Until measures of forcible confiscation, through the State or in defiance of it, shall have abolished the concentrations that monopoly has created, the economic solution proposed by Anarchism and outlined in the forgoing pages - and there is no other solution - will remain a thing to be taught to the rising generation, that conditions may be favorable to its application after the great leveling. But education is a slow process, and may not come too quickly. Anarchists who endeavor to hasten it by joining in the propaganda of State Socialism or revolution make a sad mistake indeed. They help to so force the march of events that the people will not have time to find out, by the study of their experience, that their troubles have been due to the rejection of competition. If this lesson shall not be learned in a season, the past will be repeated in the future, in which case we shall have to turn for consolation to the doctrine of Nietzsche that this is bound to happen anyhow, or to the reflection of Renan that, from the point of view of Sirius, all these matters are of little moment.
B.R.T., August 11, 1926.

The foregoing postscript was originally written in 1911. Today Mr. Tucker sees fit to modify it to its present form, which makes it unavoidably imply that the abolition of all four of the great monopolies could even now loosen the grip of capitalism. His statement amounts to the prediction that the inauguration of free banking, which Individualist Anarchists commonly anticipate as the first step in the realization of freedom, would not alone achieve that result. But it should be recorded that the editor of this book, and those other adherents to the ideas set forth in it, who by their advices and otherwise have aided him in the task, do not share Mr. Tucker's pessimism. Unlike him, they have been in intimate contact with the industrial and commercial life of the United States for the past two decades and have therefore been able to observe that the trend of events is not now inevitably toward either State confiscation or revolution. The enormous strides made by voluntary association, especially among those opposed to the domination of capitalism, point the way clearly to the peaceful elimination of the financial oligarchy which now rules the nation. - The Editor

sexta-feira, 3 de junho de 2011

A análise de classe marxista vs. a análise de classe austríaca

No seguinte artigo, tenho três propostas. Primeiro, irei apresentar algumas teses que constituem o núcleo básico da teoria marxista da história. Afirmo que todas elas, em sua essência, estão inteiramente corretas. Em seguida, irei demonstrar como essas corretas teses marxistas foram derivadas de uma base completamente errônea. Por fim, quero demonstrar como a teoria austríaca, na tradição de Mises e Rothbard, pode fornecer uma explicação correta, embora categoricamente diferente, da validade destas teses marxistas.
Deixe-me começar com o núcleo básico do sistema de crenças marxista:[1]

(1) "A história da humanidade é a história da lutas de classe."[2] É a história das lutas entre uma classe dominante relativamente pequena e uma classe de explorados bastante numerosa. A principal forma de exploração é econômica: a classe dominante expropria parte da produção gerada pelos explorados — ou, como dizem os marxistas, a classe dominante "se apropria da mais-valia social e a utiliza para seus próprios propósitos de consumo."

(2) A classe dominante é unida pelo seu interesse comum de manter sua posição exploratória e maximizar sua mais-valia apropriada espoliativamente. Ela nunca deliberadamente abre mão do poder ou da renda advinda da exploração. Logo, qualquer perda de poder ou de renda da classe exploradora só será alcançada por meio de conflitos, cujos resultados efetivos vão depender, em última instância, da consciência de classe dos explorados — isto é, se os explorados estão cientes das suas próprias condições, o quão cientes estão disso e, principalmente, se estão conscientemente unidos aos outros membros da sua classe em oposição conjunta à exploração.

(3) O domínio de classe se manifesta essencialmente através de arranjos específicos que estão relacionados à forma como os direitos de propriedade são estipulados — ou, na terminologia marxista, na forma de "relações de produção" específicas. Para proteger esse arranjo ou essa relação de produção, a classe dominante forma o estado e assume seu comando, transformando-o em um aparato de compulsão e coerção. O estado impõe uma determinada estrutura de classes e estimula a sua reprodução através da administração de um sistema de "justiça de classe", e ajuda na criação e no sustento de uma superestrutura ideológica voltada para dar legitimidade à existência do domínio de classe.

(4) Internamente, o processo de competição dentro da classe dominante gera uma tendência de crescente concentração e centralização. Um sistema multipolar de exploração vai sendo gradualmente substituído por um sistema oligárquico ou monopolista. Um número cada vez menor de centros de exploração continua em operação — e aqueles que continuam estão cada vez mais integrados a uma ordem hierárquica. Externamente (isto é, no que diz respeito ao sistema internacional), esse processo de centralização levará a guerras imperialistas entre estados e à expansão territorial do domínio explorador. Quanto mais avançado estiver o processo de centralização, mais intensas serão as guerras.

(5) Finalmente, com a centralização e a expansão do domínio explorador gradualmente se aproximando do seu limite supremo de dominação global, o domínio de classe irá se tornar crescentemente incompatível com uma maior evolução e melhoria das "forças produtivas". Estagnações econômicas e crises se tornam cada vez mais rotineiras, criando assim as "condições objetivas" para o surgimento de uma revolucionária consciência de classe dos explorados. A situação se torna propícia para a criação de uma sociedade sem classes, para o "desaparecimento do estado", com o governo do homem sobre o homem sendo substituído pela simples administração das coisas[3]. Como resultado, haverá uma prosperidade econômica sem precedentes.

Todas essas teses podem ser perfeitamente justificáveis, como eu demonstrarei. Infelizmente, no entanto, o marxismo — que apóia a todas elas — foi a ideologia que fez mais do que qualquer outra para desacreditar as validades dessas teses, justamente por tê-las derivado de uma teoria de exploração evidentemente absurda.

Qual é essa teoria marxista da exploração? De acordo com Marx, os sistemas sociais pré-capitalistas, como a escravidão e o feudalismo, são caracterizados pela exploração. Não há nenhuma controvérsia quanto a isso. Afinal, o escravo não é um trabalhador livre e não se pode dizer que ele ganha por estar escravizado. Ao contrário, ao ser escravizado, sua utilidade é reduzida em prol de um aumento na riqueza apropriada pelo escravizador. O interesse do escravo e o interesse do dono do escravo são de fato antagônicos. O mesmo é válido quanto aos interesses do senhor feudal que extrai impostos sobre a terra de um agricultor que se apropriou originalmente dela. Os ganhos do senhor são as perdas do agricultor. E também não há controvérsia quanto ao fato de que tanto a escravidão quanto o feudalismo de fato obstruem o desenvolvimento das forças produtivas. Nem o escravo nem o servo serão tão produtivos quanto seriam sem a escravidão ou a servidão.

A idéia genuinamente nova do marxismo foi afirmar que, essencialmente, nada muda quando se sai do sistema escravagista para o sistema capitalista; nada muda se o escravo se torna um trabalhador livre, ou se o agricultor decide cultivar uma terra originalmente apropriada por outra pessoa e paga um aluguel para fazer isso. Para não haver dúvida, Marx, no famoso capítulo XXIV do primeiro volume de seu O Capital, intitulado "A Chamada Acumulação Original", fornece uma descrição histórica do surgimento do capitalismo, em que chama a atenção para o fato de que grande parte ou até mesmo a maioria da propriedade inicial capitalista é o resultado de pilhagens, anexações e conquistas.

Similarmente, no capítulo XXV, sobre a "Moderna Teoria do Colonialismo", o papel da força e da violência na exportação do capitalismo para o — como diríamos hoje em dia — Terceiro Mundo é fortemente enfatizado. Reconhecidamente, tudo isso está correto em termos gerais — e, na medida em que isso está correto, não pode haver contendas quanto à rotulação desse tipo de capitalismo como explorador.

Porém, é preciso estar atento para o fato de que, nesse ponto, Marx está incorrendo em uma trapaça. Ao fazer investigações históricas e incitar a indignação do leitor quanto às brutalidades que ocorreram durante a formação de muitas fortunas capitalistas, ele na verdade está evadindo o assunto em questão. Ele muda o enfoque e se distrai para o fato de que sua tese é na verdade inteiramente diferente, a saber: que mesmo sob um capitalismo "limpo", por assim dizer (ou seja, sob um sistema no qual a apropriação original do capital foi inteiramente honesta, sem qualquer tipo de pilhagem), com trabalho e poupança, o capitalista que contratou mão-de-obra para ser empregada com seu capital estaria ainda assim praticando exploração. Com efeito, Marx considerava a comprovação desta tese como a sua mais importante contribuição à análise econômica.

Qual seria, então, sua prova do caráter explorador de um capitalismo limpo?

Sua prova consiste na observação de que os preços dos fatores de produção, em particular os salários pagos aos trabalhadores pelos capitalistas, são menores do que os preços dos bens produzidos. O trabalhador, por exemplo, recebe um salário que representa os bens de consumo produzidos em três dias, sendo que ele, na verdade, trabalhou cinco dias por seu salário e produziu um total de bens de consumo que excede em valor o que ele recebe como remuneração. Os bens produzidos durante esses dois dias extras — a mais-valia, na terminologia marxista — são apropriados pelo capitalista. Portanto, de acordo com Marx, existe exploração.[4]

O que há de errado com essa análise?[5] A resposta se torna óbvia tão logo se pergunta por que seria possível o trabalhador concordar com esse arranjo. Ele concorda porque seu pagamento salarial representa bens presentes — ao passo que os serviços de sua mão-de-obra representam apenas bens futuros —, e ele, como qualquer ser humano, atribui um valor muito maior aos bens presentes do que aos bens futuros. Afinal, ele também poderia optar por não vender seus serviços ao capitalista e, com isso, se apossar ele próprio do "valor total" de sua produção.

Mas isso, é claro, significa que ele teria de esperar muito mais tempo até que quaisquer bens de consumo se tornassem disponíveis para ele. Ao vender sua mão-de-obra, ele demonstra preferir uma menor quantidade de bens de consumo agora a uma quantidade possivelmente maior em algum momento futuro.

Por outro lado, por que o capitalista iria querer fazer um acordo com o trabalhador? Por que ele iria querer adiantar bens presentes (dinheiro) para o trabalhador em troca de serviços que trarão frutos somente mais tarde? Obviamente, ele não iria querer pagar, por exemplo, $100 agora se ele fosse receber a mesma quantia daqui a um ano. Neste caso, por que não simplesmente ficar com o dinheiro por um ano e, com isso, receber o benefício extra de tê-lo sob seu total controle durante todo esse tempo? Ao invés disso, é natural que ele espere receber uma soma maior que $100 no futuro a fim de poder abrir mão dos $100 agora na forma de salário pago para o trabalhador. Ele espera ser capaz de auferir um lucro — ou, mais corretamente, um retorno de juros.

Ele também é restringido pela preferência temporal, isto é, pelo fato de que um indivíduo invariavelmente prefere possuir um bem no presente a ter esse mesmo bem apenas no futuro. Se um indivíduo pode obter uma maior soma no futuro sacrificando uma soma menor no presente, por que então o capitalista não poupa mais do que está poupando? Por que ele não contrata mais trabalhadores do que contrata atualmente, dado que cada um deles promete um retorno de juros a mais? A resposta novamente deveria ser óbvia: porque o capitalista é também um consumidor como qualquer outro indivíduo, e como todo ser humano simplesmente não pode deixar de ser um. A quantidade que ele pode poupar e investir é restringida pela necessidade de ele, assim como o trabalhador, também requerer uma oferta de bens presentes "suficientemente grande para garantir a satisfação de todas as necessidades cuja satisfação durante o período de espera é considerada mais urgente do que as vantagens que um período ainda maior de produção poderia proporcionar".[6]

O que há de errado, portanto, com a teoria da exploração de Marx é que ele não compreende o fenômeno da preferência temporal como uma categoria universal da ação humana.[7] O fato de o trabalhador não receber seu "valor total" não tem nada a ver com exploração; simplesmente reflete o fato de que é impossível o homem trocar bens futuros por bens presentes sem que haja um desconto. Contrariamente ao caso do escravo e do dono de escravos, em que o último se beneficia à custa do primeiro, o relacionamento entre o trabalhador livre e o capitalista é mutuamente benéfico. O trabalhador entra no acordo porque, dada a sua preferência temporal, ele prefere uma menor quantidade de bens presentes a uma quantidade maior no futuro; e o capitalista entra no acordo porque, dada sua preferência temporal, ele possui uma preferência de ordem inversa, dando mais valor a uma quantidade maior de bens futuros a uma quantidade menor de bens presentes. Seus interesses não são antagônicos, mas sim harmoniosos. Caso o capitalista não tivesse a expectativa de receber um retorno de juro, o trabalhador estaria numa situação pior, pois teria que esperar mais tempo do que deseja; e sem a preferência do trabalhador por bens presentes, o capitalista estaria numa situação pior, pois teria que recorrer a métodos de produção mais curtos e com menos estágios — logo, menos eficientes — do que aqueles que deseja adotar.

Tampouco o sistema salarial capitalista pode ser considerado um obstáculo à evolução das forças de produção, como afirma Marx. Se o trabalhador não pudesse vender seus serviços de mão-de-obra e se o capitalista não os pudesse comprar, a produção não seria maior, mas sim menor, pois a produção teria de ser feita com níveis relativamente reduzidos de acumulação de capital.

Sob um sistema de produção socializado, a evolução das forças produtivas — ao contrário do que afirmava Marx — não alcançaria novos ápices, mas, sim, afundaria dramaticamente.[8] Afinal, é algo óbvio que a acumulação de capital deve ser feita por indivíduos específicos em pontos específicos do tempo e do espaço por meio da apropriação original, da produção e da poupança. Em cada caso, a acumulação de capital é realizada na expectativa de que ela levará a um aumento da produção de bens futuros. O valor que um indivíduo atribui ao seu capital reflete o valor que ele atribui a todas as rendas futuras possibilitadas por esse capital, renda essa descontada por sua preferência temporal.

Se, como no caso de fatores de produção sob propriedade coletiva, um indivíduo não mais possui controle exclusivo do seu capital acumulado — e, portanto, sobre a renda futura a ser derivada do emprego deste capital —, sendo que o controle parcial deste capital foi dado a outros indivíduos que não são produtores e nem poupadores, o valor para esse indivíduo da renda esperada e, consequentemente, o valor dos bens de capital será reduzido. Sua preferência temporal efetiva subirá; ele passará a ser mais imediatista, mais voltado para o presente. Haverá menos apropriação original de recursos escassos e menos poupança para a manutenção dos recursos existentes e para a produção de novos bens de capital. O período de produção, o número de estágios da estrutura de produção, será reduzido e o resultado será um relativo empobrecimento.

Se a teoria marxista da exploração capitalista e suas idéias sobre como acabar com a exploração e estabelecer a prosperidade universal são falsas a ponto de serem ridículas, resta claro que qualquer teoria de história que seja derivada dela também deve ser falsa. Ou, caso ele esteja correta, sua derivação se deu de modo totalmente incorreto.

Ao invés de incorrer na prolixa e enfadonha tarefa de explicar todas as falhas presentes no argumento marxista, que começa com sua teoria de exploração capitalista e termina na sua teoria de história como acabei de descrever, tomarei um atalho. A seguir, delinearei, da forma mais breve e correta possível, a teoria austríaca-misesiana-rothbardiana da exploração; farei um esboço explanatório de como essa teoria faz sentido partindo da teoria de classes da história; e ressaltarei, ao longo do percurso, algumas diferenças essenciais entre esta teoria de classes e a teoria marxista, apontando também algumas afinidades intelectuais entre o austrianismo e o marxismo, afinidades essas que advêm de suas convicções comuns de que realmente existe uma exploração e uma classe dominante.[9]

O ponto de partida para a teoria austríaca da exploração é claro e simples, como deve ser. Na realidade, ele já foi estabelecido por meio da análise da teoria marxista: a exploração caracterizava a relação entre escravo e mestre e entre servo e senhor feudal. Porém, não foi possível encontrar nenhuma exploração sob um sistema de capitalismo limpo. Qual a diferença principal entre esses dois casos? A resposta é: o reconhecimento ou não do princípio da apropriação original (o princípio que diz que os recursos naturais previamente sem dono podem ser apropriados originalmente quando um indivíduo coloca-os em uso ou, segundo as palavras de John Locke, "mistura seu trabalho a eles").

O camponês sob o feudalismo é explorado porque ele não possui controle exclusivo sobre a terra da qual ele se apropriou originalmente, e o escravo porque ele não possui controle exclusivo sobre seu corpo, do qual, obviamente, ele deve ser o proprietário original. Se, ao contrário, todos possuírem controle exclusivo sobre seus próprios corpos (ou seja, se todos forem trabalhadores livres) e agirem de acordo com o princípio da apropriação original, não há como haver exploração. É logicamente absurdo afirmar que uma pessoa que se apropria de bens previamente não apropriados por ninguém, ou que emprega esses bens na produção de bens futuros, ou que poupa os bens presentemente apropriados ou produzidos com o intuito de aumentar a oferta futura de bens, estaria explorando alguém ao agir assim. Nada foi tirado de ninguém nesse processo, e bens adicionais foram realmente criados.

E seria igualmente absurdo afirmar que um acordo voluntariamente feito entre diferentes apropriadores originais, poupadores e produtores envolvendo seus bens e serviços (que foram apropriados de maneira não exploratória) pode possivelmente conter alguma injustiça ou exploração. Ao contrário, a exploração ocorre justamente quando há algum desvio do princípio da apropriação original. Ocorre uma exploração sempre que um indivíduo exitosamente adquire o controle parcial ou total de recursos dos quais ele não se apropriou originalmente, não poupou ou não produziu, e os quais ele não adquiriu contratualmente de outro indivíduo que havia sido o genuíno proprietário-produtor desses recursos. Exploração ocorre quando apropriadores originais, produtores e poupadores são expropriados por não-produtores, não-poupadores e não-contratantes que só chegaram mais tarde. Exploração é quando pessoas cujas propriedades foram adquiridas por meio do trabalho e do contrato são expropriadas por pessoas que simplesmente alegam ter direitos a essas propriedades; direitos esses derivados do nada, e que desprezam todo o trabalho e todos os contratos feitos por terceiros.[10]

Desnecessário dizer que a exploração assim definida é, com efeito, parte integral da história humana. Um indivíduo pode adquirir riqueza e aumentá-la tanto por meio da apropriação original, da produção, da poupança ou de contratos, quanto por meio da expropriação pura e simples de outros apropriadores originais, produtores, poupadores ou contratantes. Não há outras maneiras. Ambos os métodos são naturais à humanidade. Junto com a apropriação original, a produção e a contratação, sempre houve no mundo propriedades que foram adquiridas por meio de métodos não-produtivos e não-contratuais. Na história do desenvolvimento econômico, assim como os produtores e contratantes podem formar empresas, empreendimentos e corporações, também os exploradores podem fazer conluio para criar empreendimentos, governos e estados exploradores em larga escala.

A classe dominante (a qual, novamente, pode ser internamente estratificada) inicialmente é formada por membros dessa empresa exploradora. E com uma classe dominante estabelecida sobre um dado território e ocupando-se de expropriar os recursos econômicos de uma classe de produtores explorados, o centro de toda a história de fato passa a ser a luta entre exploradores e os explorados. A história, portanto, se corretamente contada, é essencialmente a história das vitórias e derrotas dos dominadores em suas tentativas de maximizar suas rendas adquiridas exploratoriamente, e dos dominados em suas tentativas de resistir a essa tendência e de tentar revertê-la.

É quanto a essa abordagem da história que os austríacos e os marxistas concordam, e é por isso que existe uma notável afinidade intelectual entre as investigações históricas austríacas e marxistas. Ambas as escolas se opõem a uma historiografia que reconhece apenas ação ou interação, tudo econômica e moralmente no mesmo nível; e ambas se opõem a uma historiografia que, ao invés de adotar uma posição com juízo de valor neutro, julga-se no dever de inserir arbitrariamente julgamentos de valor subjetivo com o intuito de realçar suas narrativas históricas. Em vez disso, a história precisa ser contada em termos de liberdade e exploração, parasitismo e empobrecimento econômico, propriedade privada e sua destruição — caso contrário, ela estará sendo contada falsamente.[11]

Ao passo que empresas produtivas surgem e desaparecem em decorrência do apoio voluntário (ou de sua ausência) dos consumidores, uma classe dominante nunca chega ao poder porque houve uma demanda por ela; tampouco ela abdica do poder quando sua abdicação é explicitamente demandada. Não se pode dizer, nem com muita imaginação, que apropriadores originais, produtores, poupadores e contratantes demandaram suas próprias expropriações. Eles devem ser coagidos a aceitá-la, e isso prova de maneira conclusiva que a existência dessa empresa exploradora não é demandada de forma alguma. Tampouco se pode dizer que uma classe dominante pode ser derrubada por meio da abstenção de transações com ela, assim como tal medida pode pôr abaixo um empreendimento produtivo. Afinal, a classe dominante adquire sua renda por meio de transações não-produtivas e não-contratuais, sendo assim jamais afetada por boicotes. O que torna possível o surgimento de uma empresa exploratória, e a única medida que pode extingui-la, é um estado específico da opinião pública — ou, na terminologia marxista, um estado específico de consciência de classe.

Um explorador cria vítimas, e vítimas sempre serão inimigos em potencial. É possível que essa resistência seja duradouramente suprimida pela força — como, por exemplo, no caso de um grupo de homens que explora outro grupo aproximadamente do mesmo tamanho. Entretanto, é necessário muito mais do que força para conseguir ampliar a exploração sobre uma população cujo tamanho é várias vezes maior do que o seu. Para que isso aconteça, uma empresa precisa também ter o apoio do público. A maioria da população deve aceitar as ações exploradoras como legítimas. Essa aceitação pode variar do entusiasmo vigoroso à resignação passiva. Mas é necessário haver uma aceitação no sentido de que uma maioria já deve ter abdicado da ideia de oferecer alguma resistência ativa ou passiva a qualquer tentativa de aquisição de propriedades por meio de métodos não-produtivos e não-contratuais. A consciência de classe deve estar baixa, rudimentar e confusa. Somente enquanto esse estado de coisas persistir haverá espaço para uma empresa exploradora prosperar, mesmo que realmente não haja nenhuma demanda por ela.

Somente se os explorados e expropriados desenvolverem uma clara idéia de sua real situação e se unirem a outros membros da própria classe por meio de um movimento ideológico que dê expressão à idéia de uma sociedade sem classes, na qual toda forma de exploração é abolida, poderá a força e o poder da classe dominante serem debilitados. Somente se a maioria do público explorado se tornar conscientemente integrado a esse movimento e se mostrar correspondentemente indignado com todas as aquisições de propriedade que ocorrem por meio de métodos não-produtivos e não-contratuais, e demonstrar desprezo por todos que praticam esses atos, pode aquele poder se desmoronar.

A gradual abolição do domínio feudal e absolutista e o surgimento de sociedades crescentemente capitalistas na Europa Ocidental e nos EUA — junto com um crescimento econômico e populacional sem precedentes — foi resultado de uma crescente consciência de classe entre os explorados, os quais foram ideologicamente moldados pelas doutrinas do direito natural e do liberalismo. Quanto a isso, os austríacos e os marxistas concordam.[12] Eles discordam, contudo, quanto à próxima afirmação: a reversão desse processo de liberalização e os níveis gradualmente crescentes de exploração nessas sociedades desde o último terço do século XIX, e particularmente consideráveis desde a Primeira Guerra Mundial, são o resultado de uma perda da consciência de classe. Com efeito, na visão austríaca, o marxismo possui enorme parcela de culpa por essa situação: ele desviou a atenção do correto modelo de exploração (a luta entre o apropriador original/produtor/poupador/contratante e o não-apropriador original/não-produtor/não-poupador/não-contratante) para o falacioso modelo do trabalhador assalariado versus o capitalista, assim bagunçando as coisas.[13]

O estabelecimento de uma classe dominante sobre uma classe explorada — cujo tamanho é várias vezes maior que o seu — por meio da coerção e da manipulação da opinião pública (isto é, por um baixo grau de consciência de classe entre os explorados) possui sua expressão institucional mais básica na criação de um sistema de direito público sobreposto ao direito privado. A classe dominante se dissocia das outras classes e protege sua posição como classe dominante adotando uma constituição que defende todo o funcionamento de sua própria empresa. Por um lado, ao formalizar as operações internas dentro do aparato do estado, bem como suas relações com a população explorada, uma constituição cria algum grau de estabilidade jurídica. Quanto mais as noções familiares e populares de direito privado estiverem incorporadas na constituição e no direito público, mais propício isso será para a criação de uma opinião pública favorável. Por outro lado, qualquer constituição e qualquer lei pública também formalizam o status de imunidade da classe dominante em relação ao princípio da apropriação original. Uma constituição formaliza o direito dos representantes do estado de incorrerem em aquisições de propriedade por meio de métodos não-produtivas e não-contratuais, e a subordinação suprema do direito privado ao direito público.

A justiça de classe — isto é, a dualidade entre um conjunto de leis para os governantes e outro conjunto para os governados — vem para sustentar esse dualismo do direito público e privado e para sustentar a dominação do direito público sobre o direito privado e infiltrar este por aquele. Ao contrário do que os marxistas pensam, não é porque os direitos de propriedade privada são reconhecidos pela lei, que a justiça de classe é estabelecida. Na verdade, a justiça de classe surge precisamente quando uma distinção legal existe entre uma classe de pessoas agindo sob e sendo protegida pelo direito público e outra classe agindo sob e sendo protegida por um direito privado subordinado. Mais especificamente, portanto, a proposição básica da teoria marxista do estado é particularmente falsa. O estado não é explorador porque protege os direitos de propriedade dos capitalistas, mas sim porque ele próprio está isento da restrição de ter que adquirir propriedade por meios produtivos ou contratuais.[14]

Entretanto, apesar deste erro fundamental, o marxismo, porque interpreta corretamente o estado como explorador (ao contrário, por exemplo, da Escola da Escolha Pública [Public Choice School], que o vê como uma empresa normal entre outras[15]), nos fornece alguns vislumbres importantes com relação à lógica das operações do estado. Por exemplo, ele reconhece a estratégica função das políticas estatais de redistribuição de renda. Como uma empresa exploradora, o estado tem de estar, a todos os momentos, interessado em um baixo grau de consciência de classe entre os dominados. A redistribuição de propriedade e de renda — uma política de divide et impera — é a forma pela qual o estado pode criar uma divisão entre o público e destruir a formação de uma consciência de classe unificadora entre os explorados.

Além disso, a redistribuição do próprio poder estatal por meio da democratização do processo de entrada no aparato estatal — em que as principais posições do governo estão abertas para todos, e em que se concede a todos o direito de participar na determinação dos eleitos e das políticas do estado — é um meio de reduzir a resistência dos explorados à exploração que sofrem. Ademais, o estado de fato é, como os marxistas o vêem, o grande centro de propaganda ideológica e mistificação: exploração na verdade significa liberdade; impostos na verdade são contribuições voluntárias; relações não-contratuais são na verdade "conceitualmente" contratuais; ninguém é governado por ninguém, mas nós todos nos governamos a nós mesmos; sem o estado não haveria lei nem segurança; e os pobres morreriam, etc. Tudo isso é parte da superestrutura ideológica concebida para legitimar uma base essencial, porém dissimulada, de exploração econômica.[16]

E, finalmente, os marxistas também estão corretos ao perceberem a estreita associação entre o estado e as grandes empresas, especialmente a elite bancária — embora a explicação deles para isso seja incorreta. A razão desse conluio não é que o establishment burguês veja o estado — e por isso o defenda — como o protetor dos direitos de propriedade privada e da santidade dos contratos. Muito pelo contrário, o establishment corretamente vê o estado como a antítese da propriedade privada, e tem interesse nele justamente por essa razão. Quanto mais bem sucedida for uma empresa, maior o perigo potencial de ela sofrer uma exploração governamental, mas também maiores serão os ganhos potenciais que poderão ser auferidos caso ela possa conseguir a proteção especial do governo e ficar isenta do peso total da concorrência capitalista.

É por isso que a elite empresarial tem interesse no estado e em tentar infiltrá-lo. A elite dominante, por sua vez, tem interesse em cooperar com a elite empresarial por causa do poder financeiro desta. Mais especificamente, a elite bancária é de interesse especial do estado porque, sendo uma empresa exploradora, o estado naturalmente deseja possuir completa autonomia para 'falsificar' dinheiro — isto é, para criar moeda sem restrições.

Ao se oferecer para incluir a elite bancária em suas próprias maquinações contraventoras, dando aos bancos o privilégio de poderem criar dinheiro adicional sobre todo o dinheiro já criado pelo estado — arranjo esse que ocorre sob um regime bancário de reservas fracionárias —, o estado pode facilmente alcançar seu objetivo: estabelecer um sistema monetário monopolizado pelo estado e um sistema bancário cartelizado e controlado por um banco central. E por meio dessa direta conexão com o sistema bancário e, por extensão, com os maiores clientes dos bancos, a classe dominante efetivamente se expande para muito além do próprio aparato do estado, chegando até os nervos centrais da sociedade civil — um arranjo não muito diferente, pelo menos em aparência, da imagem que os marxistas tanto gostam de pintar sobre a cooperação entre o sistema bancário, as elites empresariais e o estado.[17]

A competição que ocorre dentro da classe dominante e entre as diferentes classes dominantes gera uma tendência de crescente concentração. O marxismo está certo quanto a isto. Entretanto, sua incorreta teoria da exploração novamente faz com que os marxistas situem a causa dessa tendência no local errado. O marxismo vê essa tendência como sendo inerente à competição capitalista. Contudo, a realidade é exatamente inversa: é precisamente enquanto as pessoas estiverem envolvidas em um capitalismo limpo, que a competição não será uma forma de interação de soma-zero. O apropriador original, o produtor, o poupador e o contratante não ganham à custa de terceiros. Seus ganhos deixam as propriedades físicas de terceiros completamente inalteradas; ou então geram ganhos mútuos (como no caso de todas as trocas firmadas por meio de contratos).

O capitalismo, portanto, aumenta a riqueza absoluta. Porém, sob esse regime, não se pode dizer que exista qualquer tendência sistemática rumo a uma concentração relativa.[18] Ao contrário, interações que resultam em uma soma-zero de ganhos caracterizam não apenas o relacionamento entre o governante e o governado, mas também entre governantes que concorrem entre si. A exploração, definida como aquisições de propriedade por meios não-produtivos e não-contratuais, só é possível quando há algo a ser apropriado coercivamente. Entretanto, se houvesse livre concorrência no ramo da exploração, não restaria mais nada para ser expropriado. Logo, a exploração requer um monopólio sobre um dado território e sua população; e a concorrência entre os exploradores é, por sua própria natureza, eliminatória e precisa desencadear uma tendência à relativa concentração de empresas exploradoras assim como uma tendência à centralização dentro de cada uma dessas empresas. O desenvolvimento de estados, e não de empresas capitalistas, fornece a melhor ilustração dessa tendência: há hoje um número significativamente menor de estados controlando exploratoriamente territórios que são muito maiores do que nos séculos anteriores. E dentro do aparato de cada estado houve de fato uma constante tendência de aumento dos poderes do governo central em detrimento de suas subdivisões regionais e locais.

No entanto, fora do aparato estatal, uma tendência de relativa concentração também se tornou aparente pela mesma razão — não, como já deve estar claro agora, por causa de qualquer característica inerente ao capitalismo, mas sim porque a classe dominante expandiu seu domínio para o seio da sociedade civil por meio da criação de uma aliança entre estados, sistema bancário e grandes empresas, e, em particular, por meio do estabelecimento de um sistema de bancos centrais. Então, se ocorre uma concentração e uma centralização do poder estatal, é natural que esse processo seja acompanhado paralelamente de um outro processo de relativa concentração e cartelização do sistema bancário e do setor industrial. Em conjunto com esses maiores poderes estatais, aumentam também os poderes do sistema bancário e das empresas ligadas ao establishment de eliminar seus concorrentes ou de colocá-los em desvantagem econômica por meio de expropriações realizadas por meios não-produtivos e não-contratuais. A concentração de empresas é simplesmente o reflexo de uma estatização da vida econômica.[19]

Os principais meios utilizados para a expansão dos poderes do estado e para a eliminação dos centros rivais de exploração é a guerra e a dominação militar. A concorrência interestados implica uma tendência à guerra e ao imperialismo. Na condição de centros de exploração, seus interesses são antagônicos por natureza. Ademais, possuindo cada um deles — internamente — o poder de aplicar tributação e o poder absoluto sobre a criação de dinheiro, torna-se possível para as classes dominantes obrigarem terceiros a pagar por suas guerras. Naturalmente, se alguém não tem de pagar ele próprio por seus próprios empreendimentos arriscados, mas pode obrigar terceiros a fazê-lo, então é certo que ele tenderá a assumir mais riscos e a ser mais beligerante do que seria de outra forma.[20]

O marxismo, ao contrário de muitas das chamadas ciências sociais burguesas, compreende corretamente os fatos: há realmente na história uma tendência ao imperialismo; e os maiores poderes imperialistas são de fato as nações capitalistas mais avançadas. Entretanto, a explicação novamente é errônea. É o estado, como uma instituição isenta das regras capitalistas de aquisições de propriedade, que é agressivo por sua própria natureza. E a evidência histórica de uma correlação próxima entre o capitalismo e o imperialismo contradiz isso apenas aparentemente.

A explicação surge facilmente no fato de que, para ter êxito nas guerras interestados, um estado precisa ter à sua disposição recursos econômicos suficientes (em termos relativos). Tudo o mais constante, o estado com mais amplos recursos à sua disposição será o vencedor. Sendo uma empresa exploradora, o estado é por natureza destruidor de riqueza e um obstáculo à acumulação de capital. A riqueza é produzida exclusivamente pela sociedade civil; e quanto mais fracos os poderes exploradores do estado, mais riqueza e capital a sociedade consegue acumular. Assim, por mais paradoxal que possa parecer, quanto mais fraco ou mais liberal for um estado internamente, mais o capitalismo irá se desenvolver; poder extrair recursos de uma economia capitalista já desenvolvida torna o estado mais rico; e um estado mais rico é capaz de empreender guerras expansionistas em maior escala e com maior êxito. É esse relacionamento que explica por que inicialmente foram os estados da Europa Ocidental, e em particular a Grã-Bretanha, as maiores potências imperialistas, e por que no século XX esse papel foi assumido pelos EUA.

E uma explicação similarmente direta, embora novamente totalmente não-marxista, existe para a observação frequentemente feita pelos marxistas de que o sistema bancário e a elite empresarial normalmente estão entre os mais ardorosos apoiadores do poderio militar e do expansionismo imperialista. Esse apoio não ocorre porque a expansão dos mercados capitalistas necessita que haja exploração, mas sim porque a expansão desses empreendimentos que são protegidos e privilegiados pelo estado requer que essa proteção e privilégio lhes seja estendida também dentro desses países estrangeiros, fazendo com que seus novos concorrentes estrangeiros sejam tolhidos através de aquisições de propriedade feitas por meios não-contratuais e não-produtivos, da mesma forma ou até mais pronunciadamente do que ocorre na concorrência dentro do país de origem.

Especificamente, o establishment bancário e empresarial irá apoiar o imperialismo sempre que esse apoio prometer levar a uma posição de domínio militar do estado aliado sobre outro estado. Porque assim, a partir de uma posição de força militar, torna-se possível estabelecer um sistema que pode ser chamado de imperialismo monetário. O estado dominante irá utilizar seu poder superior para impor uma política de inflação coordenada internacionalmente. Seu próprio banco central irá estabelecer o ritmo do processo de criação de dinheiro, e os bancos centrais dos estados dominados serão obrigados a utilizar essa moeda dominante como suas próprias reservas e, a partir daí, inflacionar sua base monetária de acordo com a inflação que ocorre no estado dominante.

Assim, junto com o estado dominante e sendo os primeiros recebedores dessa moeda de reserva internacional, o establishment bancário e empresarial pode expropriar propriedades estrangeiras e produtores de riqueza a um custo praticamente zero. Surge assim uma dupla camada de exploração: um estado estrangeiro e uma elite estrangeira, agindo em conjunto com o estado e a elite nacionais, expropriam silenciosamente a classe explorada dos territórios dominados, causando prolongada dependência econômica e relativa estagnação econômica em relação à nação dominadora. É essa situação — totalmente não-capitalista — que caracteriza o atual status dos Estados Unidos e do dólar americano, e que gera as (corretas) acusações sobre a exploração econômica feita pelos EUA e sobre o imperialismo do dólar.[21]

Finalmente, a crescente concentração e centralização de poderes exploratórios leva à total estagnação econômica, criando assim as condições objetivas para a destruição final desses poderes e o consequente surgimento de uma sociedade sem classes capaz de produzir uma prosperidade econômica jamais vista.

Ao contrário do que dizem os marxistas, essa sociedade não será o resultado de nenhuma lei histórica. Com efeito, não existem leis históricas inexoráveis, como os marxistas imaginam.[22] Tampouco será isso o resultado de uma tendência contínua de queda da taxa de lucros, oriunda de um aumento da composição orgânica do capital (isto é, de um aumento na proporção do capital constante em relação ao capital variável), como Marx pensava. Assim como a teoria do valor-trabalho é irreparavelmente falsa, também o é a lei da tendência de queda da taxa de lucros, a qual se baseia na lei do valor-trabalho. A fonte do valor, dos juros e do lucro não está exclusivamente no trabalho, mas sim na ação — isto é, no emprego de meios escassos para se atingir determinados fins; ação essa empreendida por agentes econômicos que são limitados pela preferência temporal e pela incerteza (conhecimento imperfeito). Não há razão para supor, portanto, que mudanças na composição orgânica do capital devam ter qualquer relação sistemática com as mudanças nos juros e no lucro.

Em vez disso, a probabilidade de crises que estimulam o desenvolvimento de um maior grau de consciência de classe (isto é, que estimulam as condições subjetivas para a derrubada da classe dominante) aumenta por causa da — para usar um dos termos favoritos de Marx — "dialética" da exploração da qual falei anteriormente: a exploração é destruidora da formação de riqueza.

Portanto, na concorrência entre empresas exploradoras (estados), aqueles estados que são internamente menos exploradores ou mais liberais tendem a sobrepujar os estados que são internamente mais exploradores e menos liberais, pois aqueles terão mais recursos econômicos (mais riqueza) à sua disposição. O processo de imperialismo tem inicialmente um efeito relativamente libertador sobre as sociedades que passam a ficar sob seu controle. Um modelo social relativamente mais capitalista é exportado para sociedades relativamente menos capitalistas (mais exploradoras). O desenvolvimento das forças produtivas é estimulado: a integração econômica é promovida, a divisão do trabalho é ampliada e um genuíno mercado mundial é estabelecido. A população aumenta como consequência disso tudo, e as expectativas quanto ao futuro econômico sobem para níveis sem precedentes.[23]

Entretanto, com o domínio explorador se consolidando e a concorrência interestados sendo reduzida ou mesmo eliminada nesse processo de expansionismo imperialista, as limitações externas sobre o poder do estado dominante de explorar sua própria população, bem como seu poder de expropriação, começam a desaparecer gradualmente. A exploração interna, a tributação e as regulamentações começam a aumentar na medida em que a classe dominante vai chegando mais perto do seu objetivo supremo de dominação global. A estagnação econômica inevitavelmente se instala e as grandes expectativas — mundiais — são frustradas. E esse cenário — as grandes expectativas sendo crescentemente frustradas por um realidade econômica depressiva — propicia a clássica situação para o surgimento de um potencial revolucionário.[24]

Surge uma desesperadora necessidade de apresentar soluções ideológicas para essa crise emergente. Paralelamente, há também a disseminação da percepção de que o domínio estatal, a tributação e a regulamentação, longe de oferecerem uma solução, na verdade constituem o real problema que precisa ser superado.

Se nessa situação de estagnação econômica, de crise e de desilusão ideológica[25] uma solução positiva for oferecida na forma de uma sistemática e abrangente filosofia libertária em conjunto com sua contrapartida econômica — a Escola Austríaca de economia —, e se essa ideologia for propagada por um movimento ativista, então as chances de se inflamar o potencial revolucionário para o ativismo se tornam altamente positivas e promissoras. Pressões antiestatistas irão aumentar e gerarão uma esmagadora tendência ao desmanche do poder da classe dominante e, por conseguinte, do estado como seu instrumento de exploração.[26]

Contudo, caso isso venha a acontecer — e dependendo da intensidade com que venha a acontecer —, isso não resultará na propriedade coletiva dos meios de produção, contrariamente ao modelo marxista. Com efeito, a propriedade coletiva não é somente economicamente ineficiente, como já foi explicado, mas é também incompatível com a idéia de que o estado vai "desaparecer".[27] Pois se os meios de produção são de propriedade coletiva, e se for realisticamente pressuposto que todas as idéias sobre como empregar esses meios não irão coincidir (apenas por milagre isso ocorreria), então são precisamente os meios de produção sob propriedade coletiva que necessitam de ações estatais contínuas — isto é, de uma instituição coercivamente impondo a vontade de uma pessoa sobre uma outra que discorde.

Ao invés disso, o desaparecimento do estado — e por conseguinte o fim da exploração e o início da liberdade e de uma prosperidade econômica jamais vista — significa o estabelecimento de uma sociedade puramente privada, regulada apenas e somente pelo direito privado.
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Notas

[1] Sobre isso, ver K. Marx e F. Engels, Manifesto Comunista (1848); K. Marx, Das Kapital, 3 vols. (1867; 1885; 1894); dos marxistas contemporâneos, E. Mandel, Marxist Economic Theory (Londres: Merlin, 1962); idem, Late Capitalism (londres: New Left Books, 1975); P. Baran e P. Sweezy, Monopoly Capital (Nova York: Monthly Review Press, 1966); para uma perspectiva não-marxista, L. Kolakowski, Main Currents of Marxism, G. Wetter, Sovietideologie heute (Frankfurt/M.: Fischer, 1962), vol. 1; W. Leonhard, Sovietideologie heute(Frankfurt/M.: Fischer, 1962), vol. 2.

[2] Manifesto Comunista, seção 1.

[3] Manifesto Comunista, seção 2, últimos dois parágrafos; F. Engels, Von der Autoritaet in: Marx e Engels, Ausgewaehlte Schriften, 2 vols. (Berlim Ocidental: Dietz, 1953), vol. 1, p. 606; idem, Die Entwicklung des Sozialismus von der Utopie zur Wissenschaft, idem, vol. 2, p. 139.

[4] Ver K. Marx, Das Kapital, vol. 1; a apresentação mais curta é seu Lohn, Preis, Profit (1865).

[5] Sobre isso, ver Eugen von Böhm-Bawerk, A Teoria da Exploração do Socialismo-Comunismo (disponível gratuitamente em português no site do IMB).

[6] L. v. Mises, Ação Humana, p. 564; ver também Murray N. Rothbard, Man, Economy, and State (Los Angeles: Nash, 1970), pp. 300-01.

[7] Sobre a teoria da preferência temporal dos juros, em adição aos trabalhos citados nas notas 5 e 6, ver também Frank Fetter, Capital, Interest, and Rent (Kansas City: Sheed Andrews and Mcmeel, 1977).

[8] Sobre isso, veja Hans-Hermann Hoppe, A Theory of Socialism and Capitalism (Boston: Kluwer, 1988); idem, "Por que o socialismo sempre irá fracassar"; idem, "The Economics and Sociology of Taxation", in: Taxation: An Austrian View, editado por Lew Rockwell (Auburn: Mises Institute, 1990).

[9] As contribuições de Mises à teoria da exploração e de classe não são sistemáticas. No entanto, através de seus escritos, ele apresenta interpretações históricas e sociológicas que são análises de classe, mesmo que implicitamente. Digna de nota aqui é a sua aguda análise da colaboração entre o governo e a elite bancária em destruir o padrão-ouro para aumentar seus poderes inflacionários como meio de redistribuição de renda e riqueza fraudulentamente e exploratoriamente em favor deles próprios. Veja, por exemplo, seu Monetary Stabilization e Cyclical Policy (1928) in: idem, On the Manipulation of Money and Credit, editado por B. Greaves (Dobbs Ferry: Free Market Books, 1978); veja também seu Socialism (Indianapolis: Liberty Fund, 1981), capítulo 20; The Clash of Group Interests and Other Essays, Occasional Paper no. 7 (Nova York: Center for Libertarian Studies, 1978). Contudo, Mises não fornece um status sistemático à análise de classe e à teoria da exploração porque ele, em última análise, incorretamente concebe exploração como um mero erro intelectual, que a análise econômica correta pode dissipar. Ele não reconhece completamente que a exploração é também, e provavelmente bem mais, um problema de motivação moral que existe a despeito de toda análise econômica. Rothbard adiciona esta percepção à estrutura misesiana da economia austríaca e torna a análise do poder e das elites do poder uma parte integral da teoria econômica e das explicações histórico-sociológicas; e ele sistematicamente expande o argumento austríaco contra a exploração para incluir a ética na teoria econômica, isto é, uma teoria de justiça lado a lado a uma teoria de eficiência, pois assim a classe dominante pode também ser atacada como imoral. Para a teoria do poder, classe e exploração de Rothbard, veja em particular seu Power and Market (Kansas City: Sheed Andrews and McMeel, 1977); For a New Liberty (New York: McMillan, 1978); The Mystery of Banking (Nova York: Richardson and Snyder, 1983); America's Great Depression (Kansas City: Shjeed and Ward, 1975). Sobre os importantes precursores da análise de classe austríaca, veja L. Liggio, "Charles Dunoyer e o Liberalismo Clássico Francês", Journal of Libertarian Studies 1, no. 3, 1977; R. Raico, "Classical Liberal Exploitation Theory", idem; M. Weinburg, "The Social Analysis of Three Early 19th Century French Liberals: Say, Comte, and Dunoyer", Journal of Libertarian Studies 2, no.1, 1978; J. T. Salerno, "Comment on the French Liberal School", Idem; D. M. Hart, "Gustave de MOlinari and the Anti-Statist Liberal Tradition", 3 partes, Journal of Libertarian Studies 5, nos. 3 e 4, 1981.

[10] Sobre isso, ver também H. H. Hoppe, A Theory of Socialism and Capitalism; idem "The Justice of Economic Efficiency", Austrian Economics Newsletter, 1, 1988; idem, "The Ultimate Justification of the Private Property Ethics", Liberty, Setembro 1988.

[11] Veja também sobre esse tema Lord (John) Action, Essays in the History of Liberty (Indianapolis: Liberty Fund, 1985), F. Oppenheimer, System der Soziologie, Vol. II: Der Staat (Stuttgart: G. Fischer, 1964); A. Ruestow, Freedom and Domination (Princeton: Princeton University Press, 1986).

[12] Sobre isso, veja M. N. Rothbard, "Left and Right: The Prospects for Liberty" in: idem, Egalitarianism as a Revolt Against Nature and Other Essays (Washington, D. C.: Libertarian Review Press, 1974).

[13] Apesar de toda a propaganda socialista em contrário, a falsidade da descrição marxista dos capitalistas e trabalhadores como classes antagônicas também vem a carregar certas observações empíricas: logicamente falando, as pessoas podem ser divididas em classes de maneiras infinitamente diferentes. De acordo com a metodologia ortodoxa positivista (a qual eu considero falsa, mas que pretendo aceitar aqui para o bem da argumentação), o melhor sistema de classificação é aquele que nos ajuda a prever melhor. Contudo, a classificação de pessoas como capitalistas ou trabalhadoras (ou como representantes de variados graus dentro da condição de capitalista ou de trabalhador) é praticamente inútil para prever qual posição uma pessoa vai tomar sobre as questões políticas, sociais ou econômicas fundamentais. Ao contrário disso, a correta classificação de pessoas como pagadoras de impostos e reguladas vs. consumidoras de impostos e reguladoras (ou como representativas de variados graus da condição de pagadoras ou consumidores de impostos) é também de fato um poderoso previsor. Sociólogos têm quase sempre desconsiderado isso por causa dos preconceitos marxistas que são quase que universalmente compartilhados entre eles. Mas a experiência cotidiana corrobora esmagadoramente minha tese: descubra se alguém é um funcionário público ou não (e seu cargo e salário), e se a renda e a riqueza de uma pessoa fora do setor público é determinada, e em qual medida, pelas compras do setor público e/ou pelas ações regulatórias — as pessoas irão sistematicamente diferir em sua resposta às questões políticas fundamentais dependendo de suas classificações como consumidoras diretas ou indiretas de impostos ou como pagadoras de impostos.

[14] F. Oppenheimer, System der Soziologie, vol. 2, pp. 322-23, apresenta a questão dessa forma:

A norma básica do estado é poder. Isto é, visto pelo lado de sua origem: violência transformada em poder. Violência é uma das forças mais poderosas para moldar a sociedade, mas não é em si uma forma de interação social. Ela precisa se tornar lei no sentido positivo deste termo, isto é, sociologicamente falando, ela precisa permitir o desenvolvimento de um sistema de 'reciprocidade subjetiva'; e isso só é possível através de um sistema de restrições auto-impostas quanto ao uso de violência e com a presunção de certas obrigações por seus arrogados direitos. Neste sentido, a violência é transformada em poder e surge um relacionamento de dominação que é aceito não somente pelos governantes, mas, sob circunstâncias não tão severamente opressivas, também pelos súditos, como expressando uma 'justa reciprocidade'. A partir dessa norma básica, surgem normas secundárias e terciárias implícitas: normas de direito privado, de herança, de direito criminal, obrigacional e constitucional, todas as quais carregam a marca da norma básica de poder e dominação, sendo todas concebidas para influenciar a estrutura do estado de tal forma que aumente a exploração econômica ao seu nível máximo, o qual deve ser compatível com a continuidade da dominação legalmente regulada.

O insight fundamental é o de que "a lei nasce de duas raízes essencialmente diferentes." Por um lado, a partir da lei da associação dos iguais, que pode ser chamada de direito 'natural', mesmo que não seja um 'direito natural'; e, por outro lado, a partir da lei da violência transformada em poder regulado, a lei dos desiguais".

Sobre a relação entre o direito privado e público, veja também F. A. Hayek, Law, Legislation, and Liberty, 3 vols. (Chicago: University of Chicago Press, 1973-79), esp. vol. 1, cap. 6 e vol. 2, pp. 85-88.

[15] Veja J. Buchanan e G. Tullock, The Calculus of Consent (Ann Arbor: University of Michigan Press, 1965), p. 19.

[16] Veja H. H. Hoppe, Eigentum, Anarchie und Staat (Opladen: Westdeutscher Verlag, 1987); idem, A Theory of Socialism and Capitalism.

[17]Veja H. H. Hoppe, "Banking, Nation States and International Politics", Review of Austrian Economics vol. 4, 1989; M. N. Rothbard, The Mystery of Banking, caps. 15-16.

[18] Sobre isso em particular, M. N. Rothbard, Man, Economy, and State, cap. 10, esp. a seção "The Problem of One Big Cartel"; também L. v. Mises, Socialism, caps. 22-26.

[19] Sobre isso, veja, G. Kolko, The Triumph of Conservatism (Chicago: Free Press, 1967); J. Winstein, The Corporate Ideal in the Liberal State (Boston: Beacon Press, 1968); R. Radosh e M. N. Rothbard, eds. A New History of Leviathan (Nova York: Dutton, 1972); L. Liggio e J. J. Martin, eds., Watershed of Empire (Colorado Springs: Ralph Myles, 1976).

[20] Sobre o relacionamento entre o estado e a guerra, veja E. Krppendorff, Staat un Krieg (Frankfurt/M.: Suhrkamp, 1985); C. Tilly, "War Making and State Making as Organized Crime", in P. Evans et al., eds. Bringing the State Back In (Cambridge: Cambridge University Press, 1985); também R. Higgs, Crisis and Leviathan (Nova York: Oxford University Press, 1987).

[21] Para uma versão mais elaborada desta teoria de imperialismo militar e monetário, veja H. H. Hoppe, "Banking, Nation States and International Politics", Review of Austrian Economics, vol. 4, 1990.

[22] Sobre isso, veja principalmente L. v. Mises, Theory and History (Auburn: Mises Institute, 1985), esp. parte 2.

[23] Pode-se notar aqui que Marx e Engels, mais pronunciadamente no Manifesto Comunista, defenderam o caráter historicamente progressista do capitalismo e elogiaram abertamente suas conquistas sem precedentes. Com efeito, revisando as passagens relevantes do Manifesto, J. A. Schumpeter conclui:

Nunca, e particularmente por nenhum moderno defensor da civilização burguesa, nada como isso foi escrito, nada foi composto dessa forma em favor da classe empresarial com uma tão profunda e extensa compreensão de quais foram suas conquistas e o que elas significaram para a humanidade. ("The Communist Manifesto in Sociology and Economics", em Essays of J. A. Schumpeter, editado por R. V. Clemence [Port Washington, N. Y.: Kennikat Press, 1951], p. 293)

Dada essa visão do capitalismo, Marx foi ainda mais longe a ponto de defender a conquista britânica da Índia, por exemplo, como um desenvolvimento historicamente progressista. Veja as contribuições de Marx ao New York Daily Tribune de 25 de junho de 1853, 11 de julho de 1853, 8 de agosto de 1853 (Marx e Engels, Werke, vol. 9 [Berlim Ocidental: Dietz, 1960]). Para um marxista contemporâneo tomando uma posição similar quanto ao imperialismo, veja B. Warren, Imperialism: Pioneer of Capitalism (Londres: New Left Books, 1981).

[24] Particularmente sobre a teoria da revolução, veja Charles Tilly, From Mobilization to Revolution (Reading, Mass.: Addison-Wesley, 1978); idem, As Sociology Meets History (New York: Academic Press, 1981).

[25] Para uma abordagem neomarxista sobre a atual era do "capitalismo tardio", caracterizado por uma "nova desorientação ideológica" nascida da permanente estagnação econômica e do esgotamento dos poderes legitimadores do conservadorismo e da social-democracia, veja J. Habermas, Die Neue Unvebersichtlichkeit (Frankfurt/M.: Suhrkamp, 1985); também idem, Legitimation Crisis (Boston: Beacon Press, 1975); C. Offe, Strukturprobleme des kapitalistischen Staates (Frankfurt/M.: Suhrkamp, 1972).

[26] Para uma abordagem austríaca-libertária do caráter de crise do capitalismo tardio e sobre os prospectos para o nascimento de uma consciência de classe libertária revolucionária, veja M. N. Rothbard, "Left and Right", idem, For a New Liberty, cap. 15; idem, Ethics of Liberty (Atlantic Highlands: Humanities Press, 1982), parte 5.

[27] Sobre as inconsistências internas da teoria marxista do estado, veja também H. Kelsen, Sozialismus und Staat (Wien, 1965).

Hans-Hermann Hoppe é um membro sênior do Ludwig von Mises Institute, fundador e presidente da Property and Freedom Society e co-editor do periódico Review of Austrian Economics. Ele recebeu seu Ph.D e fez seu pós-doutorado na Goethe University em Frankfurt, Alemanha. Ele é o autor, entre outros trabalhos, de Uma Teoria sobre Socialismo e Capitalismo e The Economics and Ethics of Private Property.