sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Braz e o movimento anarquista-Por Pedro Nastri


O Brás sempre esteve em evidência, desde seu aparecimento. No 1 Império era sede das terras da Marquesa de Santos. No 2 Império, apareceram as corridas de cavalo, o futebol, as estradas de ferro e as primeiras indústrias. Com a libertação dos escravos e a Proclamação da República, vieram os imigrantes e as indústrias de porte. Vieram, também, os movimentos culturais, políticos e sindicais.

“Um tumulto estoura a porta da fábrica (Indústria Têxtil Mariângela) e uma tropa armada de rifles da Força Pública dirige-se para o Brás, avançando violentamente a tiros sobre a massa. Há feridos por ambos os lados e, atingido por uma bala, morre o sapateiro anarquista José Martinez”.

O texto acima, de uma publicação da época, revela a importância do Brás na organização e execução de uma das maiores greves que São Paulo já assistiu, a de 1917, quando os anarquistas – que até hoje se mantém organizados – detinham o controle do movimento operário.

Como ponto de concentração das principais indústrias da época, o Brás foi palco dos mais marcantes acontecimentos. “No dia 11 de julho, cerca de dez mil pessoas acompanham o cortejo fúnebre que sai do Brás, da rua Caetano Pinto, em direção ao cemitério do Araçá. O enterro simboliza a passagem da grande greve para a paralisação total de São Paulo”.

“Após o enterro uma multidão estaciona na avenida Rangel Pestana. As fábricas e oficinas esvaziam-se, enquanto as ruas povoam-se de multidões movimentando-se agitadas em todos os sentidos. O maior foco das manifestações, dos choques, da violência, da repressão é o Brás, local da maioria das fábricas e das residências operárias”.

O movimento operário foi reflexo da industrialização que a facilidade de transporte proporcionada pela construção das estradas de ferro permitiu. Com as linhas de trem passando pelo Brás, as indústrias instalaram-se no bairro, atraindo o operariado formado por imigrantes italianos e espanhóis.

Estes trouxeram da Europa a tradição das lutas operárias – com influência decisiva dos anarquistas e dos socialistas. Os imigrantes lutavam entre si: os operários, com suas casas e cortiços instalados no Brás, contra os capitães-de-indústria, que tinham suas empresas no bairro e, como os Matarazzo, construíam seus palacetes na avenida Paulista.

Anarquistas, política e cultura

O Centro de Cultura Social, que durante 57 anos esteve instalado no bairro do Brás, era a presença do anarquismo no Brasil, que desde sua fundação vem lutando pelo movimento libertário anarco-sindicalista e, que nas primeiras décadas do século passado defendia idealistas capazes de ensinar, doutrinar, conscientizar o proletário, cultural e ideologicamente.

Neste período a resistência dos militantes de origem italiana radicada em São Paulo possibilitou por muitos anos a existência do movimento anarquista, apoiando greves de operários, fundando escolas livres para alfabetizar adultos e crianças operárias quando a polícia do governo de Getúlio Vargas já havia prendido, expulso e silenciado o movimento anarco-sindicalista em todo o Brasil. Na época, os elementos nacionais eram presos, espancados, e os agitadores estrangeiros, expulsos.

Com essas medidas, o governo atendia a si mesmo, à sua classe e garantia a continuidade da situação política e social que o elegera.

O Anarquismo, nos cursos das lutas sociais, contribui para que um dia viesse a ser decretadas melhorias como oito horas de trabalho, o seguro de acidentes, o descanso semanal, as férias, os domingos remunerados e outros benefícios obrigatoriamente respeitados em todos os locais de trabalho. Muitos perderam a vida nessa luta, outros foram expulsos e alguns abandonaram a luta antes de verem realizadas suas aspirações, mas as marcas de suas participações não se apagaram na história do Brás.

Segundo Jaime Cubero, ativo militante, jornalista, intelectual e pedagogo, e que dedicou sua vida à difusão das idéias anarquistas; militando desde cedo no Centro de Cultura Social, no bairro operário do Brás, fundado em 1933 (sendo um dos fundadores), a participação do movimento anarquista foi fundamental para os benefícios da classe operária do Brás, bem como no ensino livre já que antes da fundação do Centro no bairro, o liberal Apolítico Professor Luigi Basile fundava no Brás, pelos anos de 1900, a escola Dante Aleghieri, à rua Monsenhor de Andrade, esquina com rua Assunção, e, mais tarde, na rua do Gasômetro, para alfabetizar italianos e brasileiros.

Bem, sobre a escola Dante Aleghieri... ai já é uma outra história.

Autor

Pedro Nastri / Pedro Oswaldo Nastri

Jornalista - Escritor - Historiador

Um comentário:

  1. Quando a gente pensa que é bastante forte,
    Que nada consegue nos emocionar o suficiente para
    nos fazer perder o controle de nossas emoções
    Surge a inesperada surpresa!
    Fico lisongeado em ver um de meus textos publicados em tão importante blog.
    Gostaria de poder colaborar mais sobre tão importante assunto
    Abraços
    Pedro Oswaldo Nastri
    Jornalista

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