segunda-feira, 11 de outubro de 2010
ERRICO MALATESTA (1853 – 1932)
Errico Malatesta nasceu em 14 de dezembro de 1853 na pequena cidade de Santa Maria de Capua Vetere, na província de Caserta. Seu pai, “um homem de idéias liberais”, segundo Luigi Fabbri, era um rico proprietário de terras.
Aos 14 anos de idade, Malatesta inicia sua atividade política ao protestar contra uma injustiça local, através de carta que envia ao rei Vittorio Emmanuele II, considerada por Fabbri como “insolente e ameaçadora”. As autoridades levaram a sério e ordenaram sua prisão, em 25 de março de 1868. Seu pai conseguiu libertá-lo recorrendo a amigos. Dois anos mais tarde (1870), segundo angiolini, ele foi novamente preso em Nápoles, por liderar uma manifestação e “suspenso” por um ano da Universidade de Nápoles, onde estudava medicina.
No ano de 1871, Errico adere à Internacional, por influência de Fanelli e Palladino. Ingressa na seção napolitana da Associação Internacional dos Trabalhadores, onde inicia uma nova fase de atividades. Anos mais tarde descreveria a vida de um militante naqueles dias de “entusiasmo”, quando os internacionalistas estavam “sempre dispostos a qualquer sacrifício pela causa e estavam animados pelas mais arrebatadas esperanças”.
“Todos entregavam para a propaganda tudo o que podiam, e também o que não podiam, pois quando o dinheiro escasseava, vendiam tranqüilamente os objetos de suas casas, aceitando com resignação as censuras das respectivas famílias. Pela propaganda esquecíamos o trabalho e os estudos! Enfim, a Revolução estava a ponto de eclodir a qualquer momento, e teria arrumado tudo. Alguns acabavam com freqüência na cadeia, todavia, saíam dali com mais energias do que antes: as perseguições não tinham outro efeito senão consolidar nosso entusiasmo. É verdade que as perseguições daquele momento eram fracas comparadas com as que viriam mais tarde. Naquela época, o regime saído de uma série de revoluções: e as autoridades, rígidas desde o início com os trabalhadores, em particular no campo, mostravam certo respeito pela liberdade na luta política, uma espécie de indisposição parecida com a dos governantes austríacos e a dos Bourbons, que, todavia, se desfez tão rápido quanto se consolidou o regime, e a luta pela independência nacional foi relegada a um segundo plano”.
Nessa época, Malatesta se dedica de corpo e alma à Federação Italiana, e colabora com Carlo Cafiero em L’Ordine e La Campana de Nápoles, tendo abandonado seu curso de medicina.
Em 1872, por ocasião do Congresso de Saint-Imier, conhece Bakunin e participa dos trabalhos da Aliança. Ouçamos a comovente descrição do primeiro encontro de Malatesta com Bakunin, feita pelo primeiro, em 1926, aos 73 anos de idade:
“... e assim fui para a Suíça com Cafiero. Encontrava-me enfermo, cuspia sangue e tinha em mente a idéia de que estava tuberculoso...
Enquanto atravessava à noite o Gotardo (naquela época ainda não havia o túnel, sendo necessário atravessar a montanha coberta de neve em diligência) resfriei-me e cheguei à casa de Zurique, onde vivia Bakunin, tiritando de febre.
“Depois das primeiras saudações, Bakunin me preparou uma cama e me convidou – ou melhor, me forçou – a deitar-me, cobriu-me com todos os cobertores que pôde encontrar e insistiu para que eu descansasse e dormisse. Tudo isso com um cuidado e uma ternura maternal que me chegaram diretos ao coração.
“Quando me encontrava envolto nos cobertores e todos pensavam que eu dormia, ouvi Bakunin dizer coisas admiráveis sobre mim e comentava melancolicamente: “É uma pena que tenha ficado tão enfermo, em breve o perderemos; não lhe restam sequer seis meses!”
Entre as influências que determinaram o desenvolvimento de Malatesta, a de Bakunin foi a mais importante. Errico se refere a ele como: “O grande revolucionário, aquele a quem todos nós vemos como nosso pai espiritual”. Sua maior qualidade era a capacidade de “comunicar fé, desejo de ação e sacrifício a todos aqueles que tinham a oportunidade de encontrá-lo. Costumava dizer que era preciso ter o diabo no corpo, e sem dúvida o tinha em seu corpo e sua mente”.
Em 1873, Malatesta passa sem motivo seis meses na prisão em Trani, e atrai a simpatia do diretor pelo interesse de suas discussões.
No ano seguinte eclodem os movimentos insurrecionais preparados por Bakunin e Cafiero. A polícia, advertida, faz fracassar esses movimentos. Malatesta se encontra em Pouilles, foge numa carroça de feno, mas é reconhecido, preso e novamente encarcerado na prisão de Trani. No processo, em 1875, a propaganda pela Internacional não cessa e ele é absolvido. Junta-se então a Bakunin e Cafiero na Suíça. Nesse mesmo ano, 1875, apesar dos conselhos de Bakunin, parte para a Hungria a fim de participar da insurreição de Herzegovina contra os turcos. É preso e entregue à polícia italiana.
Em 1877, Malatesta e Cafiero preparam o movimento “o bando de Benevento”. Angariam dinheiro, encontram-se com Kropotkin, sem resultado. Finalmente Cafiero vendo o que lhe restava de bens. Esse movimento tinha um valor de exemplo. O revolucionário russo, Sergei Stepniak, dele participou. Apesar da ação da polícia, Cafiero, Stepniak e Malatesta, assim como uns trinta internacionalistas, armados, bandeira vermelha à frente, tomaram a vida de Lentino. Foram distribuídas armas à população, os documentos oficiais queimados. Em seguida, foram a Gallo. Em todos os lugares faziam discursos, a população escutava, mas não participava. O exército interveio, a situação era desesperadora, Malatesta e Cafiero, ainda que sabendo como fugir permaneceram in loco e foram presos. A aventura durou doze dias, um policial foi morto, um outro foi ferido.
No processo, todos declararam ter disparado contra os policiais, mas o júri os absolveu.
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